Cartas ao director

Um novo PCP?

Embora não me suscite grande simpatia, pelo ser ar muito convencido e mesmo algo arrogante, confesso que gostei da entrevista que João Ferreira deu ao PÚBLICO. Com um pouco de atenção e análise comparativa com as posições habituais no seio do PCP, são claros alguns indícios de heterodoxia, raros na vida do quase centenário e mais antigo partido português.

Algum tempo atrás, quando questionada sobre a violação dos direitos hunanos na URSS e nos países satélites do Kremlin, Rita Rato a jovem deputada comunista, defendeu-se do incómodo das perguntas com a sua juventude e de ainda nada ter lido sobre o Gulag ou sobre o Holodomor, resposta pouco convincente para quem se licenciou em Ciências Políticas e Relações Internacionais.

João Ferreira, pelo contrário, coloca a questão da idade no devido lugar, afirmando ”que “não confundamos idade com memória histórica colectiva que transcende o período das nossas vidas”. A posição mais “forte” em toda a entrevista foi a resposta que deu quando questionado sobre Putin, a Venezuela e a Coreia do Norte: “o regime que defendo para Portugal está nos antípodas do seguido nesses países”. Isto, quando  há alguns dias, Jerónimo de Sousa ter afirmado que considerar a Coreia do Norte não democrática, era apenas uma opinião.... Se não me engano, esta é a primeira vez que leio uma declaração deste tipo a um alto dirigente do PCP. Isto depois de afirmar que Portugal tem “um dos regimes democráticos mais avançados da Europa...”

Se as respostas são sinceras e não apenas coreografia pré-eleitoral e, por outro lado, são reais as possibilidades de João Ferreira vir a ser o substituto de Jerónimo de Sousa, então podemos estar a presenciar a um virar de página da doutrina e da prática política do PCP, nas vésperas da comemoração do seu centenário.

Helder Pancadas, Sobreda

Os direitos das crianças

O debate em torno da disciplina de Cidadania e Desenvolvimento teve no artigo de Francisco Bethencourt, publicado no PÚBLICO de ontem, um momento de rara qualidade. Nele se denuncia uma série de equívocos, surgidos de ambos os lados da discussão, com especial relevo para a ideia de que em certos assuntos o melhor é não se falar. O texto é exemplar sobretudo porque se desenvolve em torno do principal, que são os direitos das crianças, e não propriamente os dos pais. Se, no âmbito da disciplina, é praticado algum tipo de proselitismo, corrija-se. Mas não se ponha em causa o papel da escola  na oferta de conhecimentos que habilitem o jovem a formar, livremente, opinião sobre aquilo que o rodeia. Se a escola o não fizer, lá estará a Internet, lá estarão as redes sociais para ocuparem o seu lugar. O meu convicto aplauso ao artigo de Francisco Bethencourt.

António Monteiro Fernandes

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