Rui Rio defende nova auditoria ao Novo Banco. E vai votar a favor do projecto do BE

Em entrevista à SIC, o líder do PSD rejeitou uma coligação com o Chega e considerou Ana Gomes e André Ventura “candidatos de ruptura”. Admitiu que preferia que Marcelo Rebelo de Sousa se posicionasse mais ao lado do PSD, mas diz que o Presidente não é “do PSD, é dos portugueses”.

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LUSA/ANTÓNIO COTRIM

Rui Rio defende que é necessária uma nova auditoria pública ao Novo Banco e uma investigação mais profunda sobre este caso. E mostra-se disponível para apoiar o pedido de uma comissão de inquérito feito pelo Bloco de Esquerda, partido que defende que a auditoria da Deloitte tem conflitos de interesse e que deve ser anulada, conforme revelou durante uma entrevista à SIC, na noite desta segunda-feira.

“Temos que arranjar uma instituição pública que, devidamente assegurada, faça uma auditoria que seja de confiança”, sugeriu Rui Rio, durante a entrevista, dando como exemplo de instituição de confiança o Tribunal de Contas.

O líder dos sociais-democratas defendeu ainda que o Estado não deveria colocar “nem mais um tostão” no Novo Banco enquanto não conferir “a conta corrente” que tem com esta instituição, embora admita que os contratos são para cumprir. Quando questionado se é contra uma nova injecção no Novo Banco no próximo Orçamento do Estado, Rio respondeu: “Não exactamente, o Governo tem uma responsabilidade enorme, foi o Governo que assinou o contrato de compra e venda do Novo Banco”.

“A questão do Novo Banco é tão grave que evidentemente temos de fazer uma comissão de inquérito. Eu li o pedido redigido pelo BE, está certo, estou de acordo, voto a favor”, adiantou o líder social-democrata, que não considera que este seja um assunto partidário.

Rio reiterou que os vários processos de aquisição de imóveis abaixo do valor de mercado pelo Novo Banco deveriam ser investigados pelo Ministério Público e estranhou a rapidez com que a Procuradoria-Geral da República decidiu que não deveria emitir uma providência cautelar para impedir novas operações deste tipo – foram “30 dias de Agosto”, quando noutras situações já demorou mais tempo.

Sobre o próximo Orçamento do Estado, Rio recusou sempre dizer se estaria disponível para viabilizar um documento em vésperas da presidência portuguesa da União Europeia, caso o documento não seja aprovado à esquerda.

Rui Rio rejeita coligação com Chega nas autárquicas. “Ninguém muda num ano”

Rui Rio deu um passo atrás e rejeitou uma coligação com o Chega nas eleições autárquicas, uma vez que “ninguém muda em um ano”. O líder dos sociais-democratas afasta-se, assim, da posição que assumiu em Julho, em entrevista à RTP3, onde admitiu “conversar” com Chega, partido liderado por André Ventura, se este se moderasse.

Esta segunda-feira, quando confrontado com algumas medidas do Chega – como a castração química ou a prisão perpétua – Rui Rio mostrou que essas medidas são incompatíveis com a linha ideológica do PSD. “Se [o Chega] mudar, talvez” haja espaço para o diálogo, porém “neste mês e meio” não viu nenhuma mudança por parte do partido, “antes pelo contrário”. E, para as autárquicas, recusa coligações com o Chega, pois “ninguém muda num ano”.

No entender de Rui Rio, o CDS ainda é a única “coligação natural com o PSD”, pois ambos os partidos têm “alguma proximidade”. No entanto, admitiu que o CDS está “em sérias dificuldades”.

“Estão sempre a dizer que devia ser uma oposição mais critica, olhe o que aconteceu ao CDS. As pessoas não votam em quem diz mal. [As pessoas] querem para o governo aquela pessoa em quem confiam e que tem uma alternativa com alguns traços de diferença face ao que está lá. Criticar tudo não, acho que foi o problema do CDS”, identifica.

Ana Gomes e André Ventura: candidatos da “ruptura”

Questionado sobre as presidenciais, Rui Rio defendeu a recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa que, apesar de não ser a sua escolha (mas sim do conselho nacional do PSD), “parece evidente que estando na Presidência da República alguém que é da fundação do PSD, que foi líder do PSD e que é Presidente numa altura em que precisamos de estabilidade” a escolha do partido recaia em Marcelo.

Sobre os dois candidatos que mais tinta têm feito correr – Ana Gomes e André Ventura – Rio classificou-as como duas candidaturas “de ruptura”, ao contrário da de Marcelo Rebelo de Sousa, que considerou ter um perfil mais moderado e de estabilidade. Ainda que haja quem, dentro da direita, não vá votar em Marcelo, o líder do PSD assumiu que a maioria está inclinada para o fazer.

Quanto a um eventual segundo mandato do actual Presidente, Rui Rio evidenciou que “qualquer militante do PSD” preferia que Marcelo tivesse uma postura mais próxima à do partido, contudo, sublinhou que o Presidente “não é do PSD, é dos portugueses”.

António Costa na comissão de honra de Luís Filipe Vieira

O líder do PSD tem sido uma das vozes mais críticas sobre o envolvimento de política no futebol e vice-versa – contando, no seu currículo, com um desentendimento com Pinto da Costa no início do século XXI devido a esse assunto. Quanto à inclusão do nome de António Costa e Fernando Medina na lista de honra de Luís Filipe Vieira (nomes que, mais tarde, foram retirados), Rui Rio explicou que não tem sido muito efusivo sobre este assunto pois tem “a razão” do seu lado.

“As críticas ao primeiro-ministro foram tantas que a reprovação está clara”, referiu. E deixou um aviso: “o futebol joga muito com a emoção, mas a política não pode ser assim”.

Contudo, para o líder do PSD, “se o presidente [do Benfica] não tivesse dívidas ao Novo Banco” não consideraria o assunto tão grave. 

Rio pede “economia que construa uma classe média mais forte”

No que toca ao Plano de Costa Silva para a recuperação económica do país, considera que o autor fez um “esforço pro bono” e relembrou que há prioridades europeias, como as questões ambientais, que figuram neste plano.

No entanto, para o líder da oposição “este dinheiro tem que responder a necessidades de longo prazo” para Portugal ser “mais desenvolvido”, pagar “melhores salários” e haver “melhores empregos”. Assim, entende ser preciso “construir uma economia mais competitiva, que construa uma classe média mais forte e mais robusta”.

“Compreendo o discurso em torno dos mais desfavorecidos, e não podemos deixar as pessoas para trás – certíssimo –, mas quanto maior for a classe média maior é o desenvolvimento do pais”, sublinhou.

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