Cartas ao director

Virar o bico ao prego

Os professores, considerados nas últimas décadas a principal fonte dos males da educação nacional, vivem um momento insólito: são surpreendentemente elogiados pelo seu empenho e trabalho.

Com efeito, a pandemia trouxe uma alteração significativa ao paradigma educativo pela responsabilização dos pais na dura tarefa de educar os seus filhos. Agora, em vez do tradicional “o professor que te ensine”, são os docentes, preocupados e diligentes, que advertem os pais para um cabal acompanhamento das aprendizagens dos seus filhos. Muito alunos (alguns com razão) queixam-se do excesso de trabalhos de casa, mas o real problema é este: como os TPC estavam banidos, as tarefas agora propostas, por poucas que sejam, aumentaram 100%!

Por outro lado, neste contexto inesperado, a telescola veio mostrar que os professores estão abertos à mudança (segundo a famigerada expressão do jargão do “politicamente correcto”) e adaptaram-se aos novos meios tecnológicos no ensino à distância. Mais: não precisaram de terapeutas da fala, teleponto ou textos escritos por outrem. Assim, os encarregados de educação enfadados das tarefas diárias dos seus petizes, que julgavam não lhes pertencer, parecem finalmente compreender – pelo menos por agora – a missão educativa dos docentes. Decerto muitos pais, na intimidade dos seus lares, já dirão de viva voz: professores, voltem às escolas, estão perdoados!

José Manuel Ventura, Entroncamento

Cavalo de Tróia em Portugal

Depois da epidemia que afinal começou na mesma semana na região de Lisboa e Vale do Tejo e na região do Norte, e depois dos números diários de novos casos terem atingido o seu pico nas duas regiões, também na mesma semana de Abril, verificaram-se diferentes caminhos na sequente descida. Assim, enquanto na região Norte os números caminharam progressivamente para valores residuais, na região de LVT e de forma inesperada, inverteu-se a tendência de descida e iniciou-se uma nova subida em início de Maio, quando ainda não havia aumento dos testes.

É difícil deixar de associar as causas desta nova subida na região de LVT aos vários exemplos públicos de incentivo ao alívio do confinamento e que surgiram nas duas semanas anteriores. Só uma alteração do comportamento social pode explicar aquela nova subida do número de casos. Entende-se o esforço dos responsáveis para tudo tentarem em transmitir uma imagem do país que, infelizmente, já não é o que estava a ser. 

Antes já se tinha anunciado que a Web Summit, em vez de adiada para 2021 - como todos os eventos públicos -, vai afinal realizar-se em Novembro deste ano. Quanto à Liga dos Campeões e depois de Istambul desistir do evento, não tivemos a serenidade suficiente para ponderar os riscos para o agravamento da pandemia, nem sequer no custo que teremos de pagar por ele.

António Matos, Viana do Castelo

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