Trump ameaça enviar militares para cidades que não travem protestos violentos

O presidente norte-americano fez discurso em directo, a partir do jardim da Casa Branca, enquanto a poucos metros as forças policiais atiravam gás lacrimogéneo contra os manifestantes.

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Reuters/TOM BRENNER
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O Presidente Donald Trump anunciou, esta segunda-feira, que tenciona mobilizar as forças militares para parar os protestos violentos devido à morte de George Floyd se os autarcas e governadores não reagirem agora.

“A América precisa de justiça, não de caos”, sublinhou o presidente norte-americano, num discurso em directo para a nação, feito a partir do jardim da Casa Branca. A poucos metros, as forças policiais atiravam gás lacrimogéneo contra os manifestantes. “É por isso que vou agir”, continuou Donald Trump. “Vou mobilizar todos os recursos federais disponíveis, civis e militares, para parar os protestos, roubos, e motins.”

“Recomendei fortemente a cada governador que ponha a Guarda Nacional no terreno em número suficiente, para que dominem as ruas. Mayors e governadores devem estabelecer uma presença policial esmagadora até a violência ter sido dominada. Se uma cidade ou um estado se recusar a tomar as medidas necessárias para defender a vida e a propriedade dos seus residentes, irei mobilizar as forças militares dos EUA e resolver o problema rapidamente”, frisou, descrevendo-se, simultaneamente, como “aliado de todos os protestos pacíficos” e “presidente da Lei e da Ordem”.

Horas antes, o presidente tinha criticado a atitude passiva dos líderes de vários estados numa videochamada com os dirigentes, cujos excertos, em versão áudio, foram partilhados pela imprensa norte-americana. “Têm de dominar. Se não dominarem estarão a perder o vosso tempo. Eles [os manifestantes] vão atropelar-vos e vocês vão parecer um bando de idiotas”, ouve-se Trump dizer aos governadores, num áudio publicado pela CBS News.

Depois da curta declaração, Trump deslocou-se alguns metros até à igreja episcopal de St. John's, , conhecida como a “igreja dos presidentes”, exibindo uma bíblia e rodeado de agentes. A visita caiu mal a Mariann Budde, bispo da diocese episcopal de Washington, que disse ao jornal Washington Post estar indignada por terem usado “gás lacrimogéneo para limparem o caminho para que usassem a igreja como um adereço”. Budde distanciou-se da mensagem do presidente: “Precisamos de liderança moral e ele fez tudo para dividir-nos e usou um dos símbolos mais sagrados da tradição judaico-cristã.”

Para executar o seu plano e usar militares para acabar com protestos, diz a Associated Press, Trump teria de invocar a Lei da Insurreição de 1807 que permite a mobilização de forças militares no interior das fronteiras para suprimir a desordem e insurreição, já que estas estão proibidas de efectuar detenções, apreender bens ou revistar pessoas no plano doméstico. No entanto, este poder cabe ao Congresso e não ao presidente.

“Não podemos deixar que os protestos pacíficos sejam afogados por motins de pessoas zangadas”, justificou Trump durante o seu discurso.

Desde a semana passada que os EUA estão imersos numa onda de protestos, caos e chamas, em contestação à morte de George Floyd, em Mineápolis, às mãos da polícia. O homem afro-americano, que estava desarmado, morreu debaixo do joelho de um polícia, após ter sido acusado de pagar cigarros com uma nota falsa, sem que de nada valessem os seus avisos de que não conseguia respirar.

O discurso de Trump foi feito pouco tempo depois de serem conhecidos os resultados de uma autópsia independente, que considerou a morte de Floyd homicídio, e de um segundo relatório oficial vir dizer o mesmo, após o primeiro ter dito que não havia provas de estrangulamento “traumático” ou asfixia. 

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