Hollywood avalia como serão as passadeiras vermelhas depois da covid-19

A grande questão é se os actores estão disponíveis para voltar às grandes estreias com multidões de fotógrafos e de fãs. Podem não querer pôr as suas vidas em risco.

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No cinema, as passadeiras são uma máquina importantíssima para a publicidade Reuters/ERIC GAILLARD

Poderá ainda demorar algum tempo até ouvirmos os repórteres perguntar: “O que está a vestir esta noite?” As passadeiras vermelhas — a alma das estreias dos filmes e dos espectáculos de prémios como os Óscares — juntam actores vestidos cheios de glamour, a imprensa e os fãs, que vão de propósito vê-los e aplaudi-los.

Mas, à medida que Hollywood lida com a pandemia de covid-19, as passadeiras vermelhas serão, no futuro, muito diferentes. Isto se continuarem a ser estendidas para serem pisadas pelos actores, realizadores, argumentistas e todos os que fazem a magia do cinema acontecer.

Com jornalistas, fotógrafos, agentes, fãs e, claro, actores, as noites de estreias com as suas passadeiras são uma máquina importantíssima para a publicidade em Hollywood. Algo difícil de gerir em época de distanciamento social.

“Toda a gente está desesperada para regressar a uma versão normal, onde estamos com outras pessoas, juntas, ombro a ombro”, confessa um publicitário de Hollywood, que prefere não ser identificado. “Não vejo que voltemos completamente [ao normal] até que exista algum tipo de vacina. Ninguém sabe quando é que as pessoas vão querer envolver-se fisicamente, em interacções pessoais, ou até viajar, para chegar a esses lugares [onde ocorrem os eventos]”, continua.

Um grande teste será realizado em Julho, altura em que estão programados os lançamentos do thriller de Christopher Nolan, Tenet, ou o live-action de Mulan. A Warner Bros. e a Disney ainda não anunciaram os seus planos publicitários para os dois filmes, nem os organizadores dos prémios Emmy, previstos para Setembro, em Los Angeles, avançam com informações sobre a celebração.

A empresa de organização de eventos 15/40 Productions, de Los Angeles, que planeou mais de 200 estreias de Hollywood, tem vindo a consultar os vários estúdios com propostas que incluem o distanciamento social.

“Pegamos na passadeira vermelha e estamos a repensar como é que funcionaria após a quarentena, com a preocupação de manter as pessoas separadas”, explica Craig Waldman, presidente da 15/40 Productions, exemplificando que as equipas de televisão e fotógrafos teriam de estar afastadas e atrás de acrílicos, assim como os jornalistas também estariam atrás de barreiras que respeitassem a distância de dois metros dos actores. Por seu lado, as celebridades interagiriam com os fãs através de gigantescos ecrãs de LED.

Estar mais próximo dos fãs só depois de haver uma vacina, continua o mesmo responsável. “Não sei se veremos actrizes nomeadas para os Emmies a caminhar pela passadeira vermelha de máscara no rosto”, alvitra Chris Gardner, jornalista do Hollywood Reporter, embora anteveja que os profissionais da comunicação social possam usá-las. 

Mas, a grande incógnita é se as celebridades aparecerão. Ou seja, pode estar tudo preparado para o grande evento e as estrelas recusarem-se a comparecer, aponta Mike Zimet, cuja lista de clientes da sua empresa de segurança nova-iorquina inclui actores como Alec Baldwin. “Conheço uma [celebridade], a quem estou a fazer a segurança neste momento, que quer estar longe disto tudo”, exemplifica.

Enquanto não se regressa à rua, os promotores têm usado da criatividade e imaginação para fazer com que os actores não sejam esquecidos, promovendo por exemplo, estreias e entrevistas virtuais nas quais as celebridades aparecem por Zoom ou no Skype. “Os actores não estão sentados em cadeiras desconfortáveis com luzes à volta. Funciona como uma conversa pelo computador com um amigo acabado de conhecer”, resume um publicitário que tem organizado vários eventos virtuais.

Contudo, estas iniciativas estão longe da emoção e do movimentado em torno da passadeira vermelha. “Essa estreia virtual é bastante estranha”, revela a actriz britânica Kristin Scott Thomas no Zoom, sentada num sofá, em casa, quando da promoção do filme Military Wives. “É assustador. No entanto, é muito mais confortável porque posso usar o meu próprio vestido”, conclui. 

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