Exibidores de cinema fazem apelo em carta aberta ao Ministério da Cultura

Com cinemas fechados, APEC diz que não estão em risco postos de trabalho e salários de cerca de dois mil trabalhadores do sector — mas despesas de três milhões de euros são “incomportáveis”.

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Martin Henrik

As exibidoras de cinema em Portugal pediram esta sexta-feira ao Governo que produza medidas específicas que compensem o encerramento temporário das salas, porque “há custos altíssimos e incomportáveis” com pagamento de rendas e salários.

“As empresas estão preocupadíssimas com a situação, porque a única fonte de receita é a exibição, a publicidade e, eventualmente, a ajuda de outros serviços, como é o caso das pipocas e refrigerantes”, afirmou à agência Lusa Lima de Carvalho, secretário-geral da Associação Portuguesa de Empresas Cinematográficas (APEC), que representa a maioria da rede de exibição comercial.

A APEC divulgou esta sexta-feira uma carta aberta, dirigida ao Ministério da Cultura e ao Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA), apelando a “medidas que evitem a progressiva fragilização económica das empresas ou até mesmo o incumprimento das suas obrigações sociais, patrimoniais e fiscais”.

Questionado pela Lusa sobre medidas específicas para as exibidoras, Lima de Carvalho não entrou em pormenores: “O que se pede é apoio. Não sabemos quais as disponibilidades quer do Ministério da Cultura quer do ICA para poder apoiar. Neste momento é uma solicitação genérica e um alerta para a situação das salas de cinema nesta emergência”.

Segundo o secretário-geral da APEC, neste momento não estão em risco nem os postos de trabalho nem os salários dos cerca de dois mil trabalhadores que laboram nos recintos de cinema, “mas tudo dependerá da evolução” do estado de emergência. “Com o encerramento, os cinemas não têm qualquer fonte de onde lhes provenha qualquer tipo de receita para enfrentar esta situação”, disse.

Como vai ser recuperado o público?

Na carta aberta, a associação afirma que “os operadores continuam com custos altíssimos e incomportáveis”, estimados em três milhões de euros, para, mais à frente, especificar que esse valor é gasto em pagamento de rendas e salários.

“Após a proibição administrativa de encerramento das salas, como é que vai ser recuperado o público e em que condições é que as salas podem ser reabertas? Não se sabe, tudo depende do tempo de encerramento e de eventuais apoios que neste momento não existem”, afirmou o secretário-geral.

A APEC representa a maioria das exibidoras em Portugal, com cerca de 450 das 583 salas de cinema. Entre as empresas representadas por esta associação estão as empresas Nos Cinemas, UCI, Cineplace, Cinema City e Socorama. De acordo com o ICA, em 2019 a exibição comercial de cinema gerou 83,1 milhões de euros de receita de bilheteira, dos quais 50,9 milhões de euros (61,3%) foram registados nas 219 salas exploradas pela Nos Cinemas. Desse total das receitas, a exibidora UCI (45 salas) obteve 9,3 milhões de euros, a Cineplace (85 salas) 9,1 milhões de euros, a Cinema City (46 salas) 6,1 milhões de euros e a Socorama (31 salas) 3,8 milhões de euros.

Nas últimas semanas, e perante o encerramento sucessivo de salas de cinema por todo o país e da paralisação da exibição comercial devido à pandemia do novo coronavírus, o PÚBLICO questionou a tutela e o ICA sobre medidas específicas para o sector da exibição. No início da semana, o gabinete da ministra da Cultura respondeu que tem estado “em permanente diálogo com o sector, ouvindo as suas dificuldades, preocupações e sugestões”, no sentido de em conjunto se chegar às “melhores soluções”. E, remetendo para as medidas anunciadas na semana passada, o Ministério da Cultura admitia que “tempos de emergência exigem medidas excepcionais” mas não concretizou intenções.

Um dos pontos mais frágeis do sector da exibição comercial é a exibição independente. A APEC representa os mais importantes exibidores e também algumas salas independentes espalhadas pelo país (Cinebox de Castelo Branco, Atlântida Cine Carcavelos, entre outros), estando de fora a Medeia Filmes, a Midas Filmes ou a Nitrato Filmes, que exploram as poucas salas independentes de Lisboa e Porto, por exemplo.

Além das medidas extraordinárias, gerais para as empresas e trabalhadores, uma das específicas para o sector do cinema abrange as exibidoras. Por decisão do ICA, os exibidores deixam, temporariamente, de reter 7,5% do preço de venda ao público dos bilhetes de cinema, porque a rede de exibição comercial está praticamente paralisada. Para a APEC, esta é “uma medida inútil, porque não havendo receita não há nada a reter”.

Segundo Lima de Carvalho, uma das actividades da APEC, a Festa do Cinema, com três dias de exibição de cinema a preços reduzidos, deverá ser adiada de Maio para Outubro, em data a confirmar.

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