Os calendários

Esta é a terceira conversa da nossa primeira memória, sobre o fanatismo, dedicada ao filósofo medieval Al Farabi.

O agora, agora e mais agora de Al Farabi era uma realidade de religiões encavalitadas umas nas outras, umas recentes que se viriam a tornar dominantes, outras antigas que viriam a quase desaparecer, impérios em fluxo e refluxo, batalhas fratricidas entre seitas, e elementos cada vez mais fortes de messianismo e milenarismo. Grande parte dos contemporâneos de Al Farabi, seus correligionários muçulmanos ou também cristãos e judeus, acreditavam que o fim do mundo estava para muito breve, e que poderia ocorrer naquela geração ou na seguinte, perto do ano mil.

E isso leva-nos a investigar sumariamente outro “agora” de Al Farabi. Mas afinal, quando é que isto tudo aconteceu. Não “quando” para nós. Mas quando para ele. Quando viveu Al Farabi?
Comecemos pelo mais simples. Se Al Farabi nasceu em 872 e se começou a viajar aos doze anos (como os chineses diziam que os pais sogdianos insistiam que os seus filhos fizessem) ele terá começado a andar em caravanas em 884. Se foi aprender música em Bukhara por exemplo aos 18 anos, fê-lo a partir de 890. Se viajou para Bagdad perto do ano 900, terá ido para a grande cidade aos 27 anos. Novecentos anos depois do nascimento (convencionado, mas com alguma margem de erro) de Jesus Cristo.

Só que Al Farabi não era cristão. E portanto para ele o ano 900 não era o ano 900.

Esta é a terceira conversa da nossa primeira memória, sobre o fanatismo, dedicada ao filósofo medieval Al Farabi.

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