Nos Brit Awards, Lewis Capaldi venceu sem levantar ondas e Dave agitou-as ao chamar racista a Boris Johnson

Na 40.ª cerimónia dos prémios da indústria fonográfica britânica, o cantor escocês venceu em duas categorias e Billie Eilish estreou em palco a sua canção para o próximo filme 007, No Time to Die. Os holofotes recaíram, porém, sobre o rapper Dave, distinguido com o álbum do ano, que atacou directamente o primeiro-ministro britânico.

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Dave foi distinguido com o prémio de Álbum do Ano por Psychodrama Reuters/HANNAH MCKAY

Entre o sentimentalismo pop em forma de baladeiro, sem levantar ondas, e o hip hop de língua afiada, a apontar o dedo numa direcção muito específica (olá, Boris Johnson, olá, Theresa May). Assim decorreram na noite desta terça-feira, na O2 Arena, em Londres, os Brit Awards, os prémios da indústria discográfica britânica que celebraram este ano a sua 40.ª edição.

O escocês Lewis Capaldi, que com o álbum Divinely Uninspired to a Hellish Extent se tornou um dos fenómenos de 2019 no Reino Unido, venceu na categoria de Novo Artista e viu o single Someone you loved distinguido como Canção do Ano. Mas foi Dave, o rapper de Streatham, que acabou por se destacar. Não só por ter juntado ao Mercury Prize vencido recentemente a elevação de Psychodrama a Álbum do Ano nos Brits, mas por marcar a sua interpretação de Black, tema em que reflecte sobre a experiência negra britânica, com um ataque directo ao primeiro-ministro Boris Johnson, que classificou como racista em versos improvisados na ocasião: “It is racist, whether or not it feels racist, the truth is our prime minister’s a real racist / They say – ‘you should be grateful, we’re the least racist’ / I say the least racist is still racist”.

Numa cerimónia por onde passaram actuações de Lizzo, agrupando em medley canções como Truth hurts e Cuz I love you, de Harry Styles ou de Stormzy, que terminou a sua performance rodeado de centenas de afrodescendentes, como afirmação do seu lugar e visibilidade na sociedade britânica, Billie Eilish contou com a companhia de Johnny Marr, antigo guitarrista dos Smiths, na estreia em palco de No time to die, tema composto para o próximo filme da saga James Bond, e Rod Stewart surgiu no final para assegurar a presença de memória histórica no evento — no final, Ronnie Wood e Kenney Jones, velhos companheiros de Stewart nos Faces, juntaram-se ao vocalista para tocar Stay with me.

Quando, em Janeiro, foram anunciados os nomeados às diversas categorias, iniciou-se um debate sobre a sub-representação de talento feminino, tendo em conta que apenas uma mulher, Mabel, encontrou lugar nas categorias mistas. A questão foi abordada durante a cerimónia pelo apresentador, o comediante Jack Whitehall — “no espírito da sustentabilidade, os Brits têm reciclado todo o tipo de desculpas para justificar terem tão poucas mulheres nomeadas”, ironizou —, e por artistas como Paloma Faith ou os Foals, distinguidos com o prémio de Banda do Ano. Mabel acabou por levar para casa o prémio de Artista Feminina a Solo, dando sequência ao sucesso da sua linhagem (a mãe, Neneh Cherry, vencera em duas categorias nos Brit Awards de 1990). A outra artista feminina vencedora foi Celeste, a quem foi atribuído o Prémio Revelação.

Os outros vencedores da noite foram Stormzy (Artista Masculino a Solo), Billie Eilish (Artista Feminina a Solo Internacional) e Tyler, the Creator (Artista Masculino a Solo Internacional). O rapper americano, autor em 2019 do celebrado Igor, regressou aos palcos britânicos depois de, em 2015, Theresa May, que ainda não liderava o governo e era então ministra da Administração Interna, ter proibido a entrada do músico em território britânico com o argumento de que a sua música “alimenta o ódio”. A restrição foi levantada o ano passado, mas Tyler não esqueceu. No palco dos Brit Awards, agradeceu o seu prémio a “alguém que carrego com carinho no coração”, afirmou. “Alguém que fez com que, há cinco anos, não pudesse ter vindo a este país. Espero que ela esteja em casa toda lixada: Obrigado, Theresa May”, rematou o músico americano.

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