Quem ficou acordado a ver os Óscares? Audiências crescem em Portugal, mas são as mais baixas de sempre nos EUA

Mínimo histórico nos EUA, com 23,6 milhões a ver o directo na ABC. Canais Fox em Portugal tiveram mais audiência que em 2019 e o pico foi a aparição de Tom Hanks.

Foto
Joaquin Phoenix foi um dos vencedores da noite - e da Internet DAVID SWANSON/EPA

A cerimónia de entrega dos 92.ºs Óscares manteve o seu lugar especial nas audiências televisivas e continua a ser um vestígio da televisão clássica, um dos acontecimentos ao vivo que concentra o maior número de público. Mas a erosão das audiências continua e nos EUA atingiu mínimos históricos: 23,6 milhões de espectadores viram os prémios, uma forte quebra em relação aos quase 30 milhões de 2019. Já em Portugal, a transmissão em dois canais Fox aumentou 36% em relação ao ano passado.

Este ano, a cerimónia foi transmitida no canal generalista ABC e voltou, pelo segundo ano consecutivo, a não ter anfitrião. Ainda assim, ultrapassou as três horas de duração e, apesar de contrariar as expectativas da temporada de prémios e a previsibilidade, com uma reviravolta que deu os prémios máximos ao sul-coreano Parasitas, não conseguiu cativar mais público nos EUA. A média de 23,6 milhões de espectadores contraria os números melhores de 2019 e cai abaixo do anterior recorde histórico – foi em 2018 que atingiram o número mais baixo da sua história televisiva, 26,5 milhões de espectadores.

Os Óscares são, ainda assim, a cerimónia de prémios mais vista e a transmissão do género que mais pessoas agrega à sua volta, dizem os dados da Nielsen citados pela imprensa norte-americana. O Super Bowl continua a ser a transmissão televisiva mais vista dos EUA, à semelhança do que acontece em Portugal, onde os programas mais vistos a cada ano são jogos de futebol (e, claro, novelas).

Em Portugal, os Óscares eram até há poucos anos transmitidos pelos generalistas nas suas madrugadas. Mas este foi o segundo ano em que os canais Fox garantiram a transmissão, e segundo dados do Fox Networks Group (FNG) enviados ao PÚBLICO, obtiveram resultados melhores do que em 2019.

Contabilizando o directo de 1h30 de passadeira vermelha e as mais de três horas de cerimónia na Fox (emissão com comentário em português de Joana Cruz, Rodrigo Gomes e Paulo Pereira, da RFM, e num canal parte do pacote básico dos operadores) e no Fox Movies (transmissão original), o grupo diz ter tido “mais de 450 mil espectadores a contactarem com o programa” e “uma audiência média total de 77 mil espectadores, o que corresponde a 6,48% de share” – tocando mais 36% de espectadores do que em 2019 e citando dados da agência GfK.

“A versão comentada em português emitida no canal Fox foi a preferida pelo público português com uma audiência média de 50 mil espectadores, enquanto a emissão original transmitida no Fox Movies conseguiu uma audiência média de 27 mil espectadores, mais do quádruplo dos espectadores do ano anterior”, respondeu ainda ao PÚBLICO fonte oficial do FNG.

E quando foi o momento em que mais pessoas estavam ligadas? “Às 3h da manhã com mais de 100 mil espectadores, num momento em que Tom Hanks apresentou a data de abertura do museu da Academia”, detalha a mesma fonte. 

Contabilizando apenas dados parciais (sem contar a transmissão completa da cerimónia), a agência de meios Universal McCann era citada na segunda-feira pela revista Marketeer com dados que indicam que a transmissão teve 188 mil espectadores, menos do que os 191 mil de 2019. Em 2018, quando os Óscares ainda estavam num canal em sinal aberto, na SIC, a audiência foi de 428 mil espectadores, segundo a mesma fonte.

O que explica a quebra global?

A perda de importância dos Óscares num mundo cada vez mais fragmentado, a tendência crescente de “cord-cutting” nos EUA (o abandono de pacotes de televisão linear, por cabo e generalista) em prol do streaming e do vídeo online ajudam a explicar a tendência de quebra no seu país. E embora seja difícil coligir as audiências globais, longe vão os dias em que, como em 1985, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood fazia alarde de ter “mil milhões de espectadores em todo o mundo”.

Os Óscares são hoje transmitidos em mais de 225 países, segundo a mesma Academia, e se até há alguns anos se falava de audiências de “várias centenas de milhões” para a cerimónia, o mais provável é que o número ronde sim as várias dezenas de milhões de espectadores.

Nos EUA, o último ano em que os Óscares foram um agregador de público comparável com o passado foi 2014, quando Ellen DeGeneres apresentou a cerimónia e fez a famosa selfie com as estrelas que tinha à mão. 12 Anos Escravo venceu e Gravidade era o filme nomeado mais popular, como reflectia há dias a revista Hollywood Reporter. As audiências foram de mais de 43 milhões de pessoas.

É essa uma análise concomitante possível: a que cruza os números do cinema e os dos Óscares televisivos – há escassas décadas, era comum que o vencedor da mais importante estatueta da noite fora também um dos filmes mais vistos do ano anterior.

O diário espanhol El Mundo fez as contas há dias e mostra vencedores do Óscar de Melhor Filme emblemáticos desse fenómeno e que vão dos anos 1980 e 90 de Rain Man: Encontro de Irmãos (1988) e Forrest Gump (1994), outros tempos da TV e do cinema, mas também a Titanic (de 1997, durante anos o filme mais rentável de sempre, mas também o 2003 do capítulo final de O Senhor dos Anéis, O Regresso do Rei).

Este ano, Toy Story 4, o vencedor do Óscar de Melhor Filme de Animação, e Joker, que viu o seu protagonista Joaquin Phoenix receber o Óscar de Melhor Actor e o seu discurso tornar-se quase viral, são os filmes mais populares que conseguiram nomeações (são o 6.º e o 7.ºs mais vistos em todo o mundo, respectivamente). Entre os nomeados e premiados, Era Uma Vez… em Hollywood de Quentin Tarantino, segue-os de longe no 23.º posto do ano.

Sugerir correcção
Ler 7 comentários