Para Arménio Carlos, Governo foi penalizado por frustar trabalhadores

A indignação teve resposta nas eleições, o PS queria maioria absoluta mas não a terá com políticas que põem em causa os direitos dos trabalhadores.

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Arménio Carlos: reivindicações dos trabalhadores não podem ser as obras de Santa Engrácia Pedro Fazeres

O secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, acusou o Governo socialista de ter frustrado as expectativas dos trabalhadores, não resolvendo os seus principais problemas, e, em resposta, foi penalizado nas últimas eleições legislativas, não alcançando a desejada maioria absoluta.

“O Governo do Partido Socialista optou por não dar sequência, na área laboral, àquilo que eram expectativas que tinham sido criadas, o que levou não só a manter a política laboral de direita como até a agravá-la, com a revisão da legislação do trabalho do ano passado. Assim, as expectativas que alguns tinham criado transformaram-se em frustração”, disse Arménio Carlos em entrevista publicada esta segunda-feira pela agência Lusa.

Por isso, segundo o sindicalista, e tal como a CGTP defende, os trabalhadores perceberam que os seus problemas não se resolvem sem contestação e mostraram o seu descontentamento e indignação nos últimos tempos com diversas formas luta.

“O descontentamento e a indignação transformaram-se também numa resposta ao Governo nas últimas eleições, em Outubro, pois o PS queria uma maioria absoluta mas não a conseguiu, nem conseguirá enquanto tiver políticas que põem em causa os direitos dos trabalhadores”, afirmou, considerando que foi um “cartão amarelo” dos trabalhadores ao Governo.

Arménio Carlos reconheceu que a primeira fase do governo do PS, com a chamada “gerigonça”, foi positiva para os trabalhadores portugueses porque lhes foram devolvidos alguns dos rendimentos e direitos retirados durante o período de intervenção da troika e foi instituído um clima de diálogo.

“Nunca tivemos tantas reuniões, nunca tivemos tanto diálogo, mas no que respeita ao que era estruturante (...) poucas ou nenhumas respostas, eu diria mais: muita parra e pouca uva”, considerou. Referiu, como exemplo, a necessidade de desbloquear a contratação colectiva, retirando da legislação laboral a norma da caducidade.

O sindicalista lembrou que em Novembro de 2015, quando o governo PSD/CDS foi rejeitado, a CGTP manifestou ao executivo socialista disponibilidade para se “encontrar soluções programadas no tempo” para dar resposta às necessidades dos trabalhadores.

Mas também deixou claro, na mesma altura, que as reivindicações dos trabalhadores não podiam ser comparáveis às obras de Santa Engrácia, que foram anunciadas mas nunca foram acabadas.

“Em relação às reivindicações dos trabalhadores foi precisamente isso que nós tivemos. Não houve resposta objectiva àquilo que era exigível, desejável e justificável que acontecesse e daqui resultou aquilo que se verificou nos últimos dois anos, que foi o aumento da contestação, da indignação, da luta (...) no sector privado e no sector público”, disse.

Em termos cronológicos, o sindicalista considerou que o ano de 2016 foi de algumas conquistas, mas o de 2017 já foi de estagnação, o que suscitou a reacção dos trabalhadores, “pois o processo tinha de ser evolutivo”. Lembrou que, apesar de tudo, a CGTP não deixou de apresentar propostas para melhorar as condições de vida e de trabalho dos portugueses, mas a falta de resposta empurrou-a para a contestação.

A melhoria dos rendimentos, o combate à precariedade e à desregulação dos horários de trabalho e o respeito pela liberdade sindical são algumas reivindicações pelas quais a Intersindical tem vindo a bater-se e que vão estar na base da conflitualidade laboral que Arménio Carlos prevê para este ano.

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