Klaus, o Pai Natal da Netflix animado em Espanha

A primeira longa-metragem de animação do serviço de streaming foi realizada por Sergio Pablos e conta a história de um miúdo rico mimado que se cruza com um eremita que se virá a transformar no Pai Natal.

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Klaus é a primeira longa-metragem de animação original da Netflix Netflix

E se o 3D não se tivesse tornado a norma do cinema de animação de massas?  É a esta pergunta que Klaus, a primeira longa-metragem animada original da Netflix, quer responder. Como tal, aqui há uma mistura entre o clássico e o contemporâneo, o desenho à mão e o digital, com cenários que não são estáticos e pelos quais as personagens se movem de uma forma quase 3D. Klaus estreia-se no serviço de streaming esta sexta-feira e tem ambição de chegar aos Óscares. Foi realizada pelo espanhol Sergio Pablos, que trabalhou na Disney na era do Corcunda de Notre Dame e de Tarzan e depois veio a criar o franchise Gru — O Maldisposto. A produção foi feita nos Sergio Pablos Animation Studios, os estúdios do realizador que ficam a 20 minutos do centro de Madrid e que o PÚBLICO visitou no final de Setembro. Foi também para esses estúdios que foram trabalhar os gémeos portugueses Edgar e Sérgio Martins, mas já lá vamos.

Klaus centra-se em Jesper, um miúdo rico e mimado cujo pai recambia para uma estação de correios numa ilha gélida e remota na Escandinávia, isto no século XIX. Só pode sair se, ao longo de um ano, conseguir fazer com que os habitantes enviem seis mil cartas. O problema? Ninguém naquela ilha envia cartas. Durante a estadia no frio, Jesper cruza-se com Alva, uma professora, e Klaus, um carpinteiro eremita de longo cabelo e barbas brancas que virá a tornar-se no Pai Natal. Jason Schwartzman, Rashida Jones e J.K. Simmons fazem, respectivamente, de Jesper, Alva e Klaus na versão original, enquanto a dobragem portuguesa é feita por César Mourão, Mia Rose e Luís Mascarenhas.

Segundo os responsáveis de comunicação dos estúdios explicaram em Setembro a um grupo de jornalistas numa visita aos escritórios onde Klaus foi desenvolvido, a ideia era fazer um filme que se pareça com a concept art de vários filmes 3D, que depois é lançada em livro. Ou seja, desenhos já pintados e polidos que dão o tom e uma ideia do que será a animação visualmente, mas ainda são diferentes do resultado final. 

De Lisboa a Madrid, com os Blink-182 pelo meio

Depois de anos a trabalharem em animação em Portugal, em estúdios como Animanostra ou Bang! Bang!, os gémeos Edgar e Sérgio Martins fizeram em 2015 uma curta-metragem com Tom DeLonge, que até esse ano foi guitarrista-vocalista da banda pop-punk californiana Blink-182, além de um conhecido estudioso do fenómeno dos OVNI. Tudo porque Sérgio enviou um email ao músico punk com uma animação de um coelho a fazer a um graffiti de Blink-182. DeLonge respondeu, e assim nasceu Poet Anderson: The Dream Walker.

Depois de ver essa curta, Sergio Pablos contratou os irmãos para passarem três anos a trabalhar na sua primeira longa-metragem em Madrid. Edgar, que se tornou head of story, ou seja, responsável pelo storyboard do filme, garante ao PÚBLICO, numa sala de reuniões dos estúdios, que não sabe como tal aconteceu, já que o animador espanhol “não parece nada” fã da banda e achava à partida que, não tendo experiência em longas-metragens, teria de passar por algumas etapas antes de poder desempenhar essa tarefa. O irmão, esse, foi supervisor de animação.

“Foi estranho: ‘Por que é que ele acredita em nós? O que é que ele sabe que não sabemos?’”, resume o animador português, que explica que na fase do storyboard se descobre muito da história que não estava escrita. Dá o exemplo de um carapuço que Klaus usa. Havia uma cena que não estava a funcionar. “No início é um tipo misterioso, ainda não é o Pai Natal que conhecemos, embora se torne depois”, conta. Nessa cena, há um miúdo a abrir pela primeira vez um presente dado por Klaus, mas era “preciso dar mistério ao desenho”. Perceberam que, se pudessem “pôr um carapuço que lhe escurecesse os olhos”, ele poderia tirá-lo e mostrar ao espectador que afinal era um “tipo normal”. “De repente temos um momento muito mais forte”, afirma. E isso levou a equipa a voltar atrás e mexer no guião e no storyboard. Houve muitas mudanças do género, explica, com vários recomeços ao sabor do que ia acontecendo, fosse na gravação das vozes em Los Angeles ou no que era descoberto na animação, “mesmo que fosse muito tarde no processo”.

O PÚBLICO viajou a convite da Netflix

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