Cigarros electrónicos. Pneumologistas temem aumento de doenças respiratórias graves

A Sociedade Portuguesa de Pneumologia desaconselha o uso de cigarros electrónicos. O alerta surge depois de terem sido identificados nos EUA 450 casos de doenças respiratórias graves – e cinco mortes – que se suspeita estarem relacionadas com estes cigarros.

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JASON LEE/Reuters

A Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP) desaconselhou nesta quarta-feira o uso de cigarros electrónicos e diz que é “provável” que surjam casos de doença respiratória grave associados ao uso destes dispositivos em Portugal e noutros países, até porque existe “uma grande disseminação destes produtos e fácil acessibilidade”.

O alerta surge depois de terem sido identificados nos Estados Unidos 450 casos de doenças respiratórias graves – e cinco mortes – que se suspeita estarem relacionadas com estes cigarros. A causa das doenças e das mortes ainda é desconhecida, mas está a ser associada ao uso de cigarros electrónicos.

A SPP reconhece que “a investigação relativa a este surto ainda se mantém em curso”, mas argumenta que “o uso de cigarros electrónicos é perigoso e não é recomendado” e que não devem ser utilizados, sobretudo em grupos mais vulneráveis “como adolescentes, idosos e doentes respiratórios crónicos”. Diz ainda que os dispositivos comprados fora do comércio regulado são ainda mais perigosos – e mais ainda quando são adicionados líquidos ou óleos contendo derivados de cannabis.

Ainda que os doentes identificados nos EUA nos últimos dois meses tivessem “uma apresentação clínica variada”, todos tinham em comum o uso de produtos relacionados com cigarros electrónicos: dispositivos, líquidos, cápsulas de enchimento e cartuchos. “Até ao momento não se conhecem casos fora dos EUA”, refere a SPP, mas “é provável” que venha a acontecer.

Os afectados são bastante jovens: um terço tem menos de 18 anos; e, no geral, as idades variam entre os 16 e 52 anos. A doença apresenta algumas características comuns: “sintomas respiratórios (tosse seca, falta de ar, opressão torácica), sintomas gastrointestinais (náuseas, vómitos ou diarreia) e sintomas gerais (febre, perda de peso, fadiga).” Em quase todos os casos houve internamento dos pacientes, havendo mais de 30% que precisaram de ventilação mecânica. Na sequência destas mortes e complicações respiratórias, as autoridades de saúde norte-americanas pediram aos cidadãos que deixassem de usar cigarros electrónicos.

Em 28% dos casos analisados, os doentes tinham consumido produtos com nicotina e derivados de cannabis. “Desconhece-se se a doença é provocada por toxicidade de algum destes compostos, por aditivos ou contaminantes desconhecidos ou por outras substâncias formadas quando se dá o aquecimento e vaporização dos líquidos”, lê-se no comunicado enviado pela SPP às redacções.

Porta de entrada — e não alternativa

A SPP elenca ainda uma série de recomendações, argumentando que o mais importante para se proteger a saúde respiratória é “respirar ar limpo” e pede a quem use cigarro electrónico que se dirija ao médico se desenvolver quaisquer sintomas respiratórios agudos, informando-os do dispositivo que usam. “Os médicos que assistem doentes com quadro clínico semelhante devem obter informação detalhada sobre o uso destes dispositivos e comunicá-lo às autoridades de saúde, em caso de suspeita”, acrescenta ainda o comunicado.

Há muito que os cigarros electrónicos são tidos como um mal menor no mundo do tabaco, sendo uma das principais causas de preocupação a adesão dos mais jovens a este “vício”. Houve um período de transição em que não se sabia se esta nova gama de cigarros era tão prejudicial à saúde quanto os tradicionais e em que se acreditava que não seriam tão nocivos quanto o tabaco cheio de alcatrão e outras substâncias perigosas. Mas agora os especialistas de saúde pública lançam o alerta de que estes cigarros são uma porta de entrada para novos dependentes da nicotina e não necessariamente uma alternativa aos cigarros tradicionais.

Os cigarros electrónicos são sistemas electrónicos de fornecimento de nicotina, propilenoglicol e/ou glicerina e “aromas” (estão disponíveis mais de 8000 tipos), água, álcool e outras substâncias que são vaporizadas e inaladas para os pulmões, resume o artigo publicado recentemente na Acta Médica Portuguesa com o título O médico, o doente fumador e o desafio dos cigarros electrónicos. Como explicava o PÚBLICO em Julho, os pneumologistas avisam que “os cigarros electrónicos de última geração são dispositivos muito potentes, capazes de fornecer nicotina em doses semelhantes, ou até superiores, às do cigarro convencional”. 

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