Marisa e Catarina dançam nas ruas. O BE já não disfarça a alegria

Catarina Martins apela ao voto daqueles que “nunca votaram no Bloco de Esquerda”.

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Catarina Martins com os candidatos Marisa Matias e José Gusmão LUSA/ANTÓNIO COTRIM

Marisa Matias e Catarina Martins dançam sorridentes, lado a lado. Marisa Matias dança com outras senhoras. José Gusmão mostra-se um pouco mais inibido, mas também alinha no bailarico ao som do swing, na arruada que o Bloco de Esquerda fez no Parque das Nações neste sábado, depois de um almoço onde estiveram cerca de 900 pessoas. Dançam swing, rock, funk: os bloquistas já não escondem a alegria.

Com aquela música toda como pano de fundo, é o próprio Francisco Louçã, o ex-dirigente do partido, quem descreve a campanha do BE como contendo “reflexão e alegria” e quem alinha no sentimento que perpassa a caravana bloquista: “Acho que vai haver um grande resultado para o BE.”

Antes, no almoço, a coordenadora do BE tinha lançado dois apelos: a quem votou no partido nas últimas legislativas e presidenciais para que não fique em casa e renove o voto, mas também a quem não vota no partido da esquerda: “Fomos tão longe quanto podíamos com a força que nos deram. Se sabemos que há muito ainda por fazer, sabemos que este é o momento de juntar forças. Queria fazer um segundo apelo: o apelo àqueles que nunca votaram no BE, que não votaram na Maria Matias, mas que sabem com quem têm estado ao longo destes anos”, disse, na sala Tejo do Pavilhão Atlântico.

“Estamos numa campanha eleitoral daquelas difíceis”, admitiu, antes de explicar que o Bloco não está contra a Europa, mas contra esta Europa. Quis responder a quem pergunta: o que faz o BE no Parlamento Europeu se é “tão crítico do caminho europeu”? Catarina Martins explicou que o BE quer defender, também na Europa, os de “baixo”, os direitos do trabalho, os salários, os serviços públicos, o ambiente. “É coisa pouca? Não. É todo um programa”, afirmou, devolvendo a pergunta a outras forças políticas. “E o que têm feito na Europa aqueles que se dizem os maiores defensores do projecto europeu?”

No discurso, não poupou críticas à direita, nem ao PS. Nem sequer ao primeiro-ministro António Costa por ter, afinal, reconhecido que “o euro foi o maior bónus que se deu à Alemanha”. A bloquista tem dificuldade em perceber quem defende “todos os tratados europeus”, mas diz-se “europeísta”.

Garantiu que o BE tem em Portugal e em Bruxelas “as mesmas lutas”, sublinhou que no dia 26 todos os votos contam e que todos valem o mesmo, “o voto de uma mulher vale tanto como os dos Netos de Moura desta vida”, o voto de um trabalhador vale tanto como o de Joe Berardo ou Ricardo Salgado. “Falta fazer muito? Claro que sim. Dia 26 de Maio vamos a isso”, reiterou, numa intervenção em que não foi esquecido o fantasma da direita, de Passos Coelho a Vítor Gaspar, mas no qual a coordenadora também lembrou vitórias como o descongelamento de pensões, conseguido mesmo quando a direita e o PS “já tinham prometido à União Europeia que as cortavam ou congelavam”.

"Uma nova construção europeia"

Foi com o volume no máximo e ao som de The White Stripes  que Catarina Martins deu a palavra à cabeça de lista do BE, Marisa Matias. “Socialistas e direita juntaram-se para construir a Europa que temos hoje”, disse a candidata, depois de admitir, sem qualquer surpresa, que a Europa não está bem.

Lançou também várias críticas: aos “dirigentes do bloco central europeu” que insistem que a Europa “está no bom caminho”, aos “aprendizes de feiticeiros” que abrem caminho a realidades como o “Brexit”, a ascensão da extrema-direita ou a políticas que Marisa Matias considera pouco solidárias no acolhimento de refugiados. Criticou a luz verde de PS, PSD e CDS aos orçamentos comunitários que entende não responderem às necessidades de investimento público, criticou os “irresponsáveis que estão a destruir os povos”. Apesar das críticas, renovou o apelo para “uma nova construção europeia”. E, salientando que recusou “sempre debater nos termos” dos adversários nesta campanha, apelou: “Estamos mais fortes, mas podemos ser ainda mais fortes.”

Já a deputada Mariana Mortágua pegou num assunto da actualidade – a polémica em torno da condecoração de Joe Berardo – para falar do “fantasma” da “berardite particularmente aguda” que atravessou o país. Referia-se a uma “elite mesquinha e dependente”, na qual uns “são mais requintados” e outros “mais boçais”, mas é que preciso combater: “É preciso vencer a elite parasitária que está a dominar Portugal e a Europa”, disse.

Quanto a Pedro Filipe Soares, que também interveio, criticou o posicionamento europeu quer da direita, quer do PS, com uns a darem “a mão a quem queria impor sanções ao país” e outros, como o primeiro-ministro António Costa, a ficarem “na mesma fotografia de Macron que ataca o Estado Social e os direitos dos trabalhadores”. Para o líder parlamentar, os socialistas “querem esconder em Portugal” as fotografias que tiram na Europa, “porque prometem diferente” ao “povo” português. Num outro momento em que se entusiasmou particularmente e em que salientou que também na habitação não há investimento suficiente por constrangimentos europeus, o bloquista apelou: “Jovens levantem-se contra a Europa, porque ela está contra vocês!”

No fim do almoço e da arruada, também Francisco Louçã haveria de subscrever os apelos de Catarina Martins: “O que conta mesmo é ter a vontade de falar com as pessoas que nunca votaram no BE, que até nunca votaram em nenhuma eleição ou que estão descontentes”, disse, acrescentando que se o partido conseguir chegar a essas pessoas “terá um resultado merecido” e pode “ter uma alegria num dia tão importante para a Europa” e para Portugal como o próximo 26 de Maio.

Porquê? “No próximo dia 26 podemos ter a extrema-direita a ganhar as eleições em países que representam metade da população europeia, não é para brincar”, alertou. Apesar de ressalvar que, embora em Portugal tal não aconteça, Louçã não deixou de lamentar que haja uma “transformação da direita para a sua radicalização”.

“É ver o CDS a desejar que a extrema-direita espanhola esteja na mesma família ou perceber que há tiques de violência, discurso de ódio, de demagogia eleitoral que vai penetrando nas campanhas de candidatos que esperaríamos que fossem de referência. É um sinal péssimo”, lamentou.

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