Secretária do Sistema de Segurança Interna critica militares por Tancos

No dia em que o roubo foi divulgado, na reunião semanal com os agentes do sector, incluindo os serviços de informação militares, os paióis não foram tema.

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Helena Fazenda no Parlamento LUSA/RODRIGO ANTUNES

Com voz pausada, propósitos propedêuticos e bons gestos, a secretária-geral do Sistema de Segurança Interna (SSI) criticou a forma como os responsáveis militares lidaram com o assalto aos paióis de Tancos. Helena Fazenda falava ao fim da tarde desta quinta-feira aos deputados da comissão parlamentar de inquérito, e até fez uma revelação.

“A responsabilidade de dar a informação é de quem a tem, o dono”, disse a responsável do SSI a propósito de um dos paradoxos de Tancos. Foi pela comunicação social, que citava um comunicado entretanto divulgado pelo Exército, que a secretária-geral do SSI teve conhecimento do roubo em 29 de Junho de 2017. Ou seja, mais de 24 horas depois e após 20 horas sem rondas, a principal instalação de armazenamento de material de guerra em Portugal ter sido roubada.

Sem dúvida por isso, às perguntas dos deputados Helena Fazenda recordava o lapso de tempo incompreensível entre um furto de armamento e o conhecimento que dele tem a estrutura que coordena a segurança do país. Pelo menos sete vezes directamente, e duas de forma indirecta, este desfasamento foi destacado. “Espero que não volte a acontecer [no futuro] nada de semelhante”, afirmou.

“As minhas funções de coordenação não são para as Forças Armadas”, recordou. “A cultura da partilha exige de todos nós insistência”, precisou. “O meu papel, o meu registo, não é avaliar a entidade A, B ou C”, esquivou-se, com quando lhe era solicitada uma ponderação dos evidentes problemas de comunicação. Foi, simultaneamente, elegante na sugestão das falhas e dura na insistência com que as apontou: “É importante tirar as ilações de que os canais de comunicação não funcionaram.”

“Não questionei sobre essa questão”, respondeu Helena Fazenda, sobre o teor de uma conversa com o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas de então, general Pina Monteiro, e o tempo que levou a chegar ao seu conhecimento o furto. Foi clara quando disse desconhecer os relatórios sobre as deficiências de segurança nos paióis de Tancos. Afinal, era uma questão militar, apesar de aquelas instalações serem as mais sensíveis em termos de segurança.

Foi assim que até pareceu normal este anacronismo. No dia 29 de Junho de 2017, pouco antes do Exército revelar o roubo de Tancos, decorreu, como todas as quinta-feira, a reunião semanal da Unidade de Coordenação Anti Terrorista (UCAT). Foi entre as 10 e as 13 e 30 que o encontro teve lugar, juntando todos os parceiros do UCAT, forças policiais e serviços de informação militares. “Em nenhum momento, o assunto de Tancos foi aflorado”, garantiu.

Helena Fazenda referiu que só numa reunião mais alargada da UCAT, em 5 de Julho, com os ministros dos Negócios Estrangeiros, Administração Interna e Justiça, o secretário de Estado da Defesa e representantes da Procuradoria-Geral da República, teve conhecimento de um inquérito antigo sobre tráfico de armas na zona centro do país.

Sobre o perfil dos autores do assalto, confirmou que foi posta de lado a hipótese terrorista, portanto de que se tratou de uma acção de crime organizado. Garantiu que a denominada “lista das compras” que circulava no submundo europeu e que chegou a Lisboa através dos congéneres estrangeiros do Serviço de Informação e Segurança não coincidia com o material furtado em Tancos, confirmando a versão da embaixadora Mira Gomes, secretária geral do SIRP, na audição parlamentar de terça-feira. 

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