A startup portuguesa que queria ser uma “Uber dos guarda-costas”

Em 2016, a Marclae gerou “burburinho” na indústria da segurança privada. Mas os clientes e os guarda-costas não se conseguiam encontrar.

Foto
Meses após o lançamento havia mais de 400 profissionais registados Rui Gaudêncio

Há três anos, dois portugueses de Braga e Barcelos tentaram criar um conceito diferente de segurança pessoal: uma plataforma digital para encontrar profissionais de segurança privados. 

“Conhecem alguém que tenha guarda-costas? Como é que se arranja um? Decidimos que seria interessante construir uma plataforma online para ajudar pessoas interessadas”, diz ao PÚBLICO Miguel Novais, 28 anos, um dos fundadores da startup. “A Marclae queria ser uma espécie de ‘Uber dos guarda-costas’.”

A ideia seguia a tendência de “uberização da economia”, um formato de negócios que ligam o consumidor directamente ao fornecedor de serviços ou produtos de uma forma directa, muitas vezes via aplicação móvel. A plataforma da Marclae reunia profissionais certificados (Close Protection Officers, em inglês) — por vezes, por intermédio de empresas especializadas em segurança — que podiam aceitar propostas de emprego agendadas pelos utilizadores.

No começo, tudo parecia promissor: meses após o lançamento havia mais de 400 profissionais registados (a maioria ficava em França, Suíça, Reino Unido e EUA) e o apoio de uma aceleradora de startups para jovens empreendedores, a ASA-ANJE. Nos EUA, o primeiro cliente, marcou um serviço para 365 dias. Só que o guarda-costas não apareceu.

“Além desse primeiro percalço, começámos a perceber que além de ser um sector altamente de contacto pessoal e blindado, começou a faltar capital para manter o projecto em andamento e decidimos abortar”, resume Novais. “Gerámos burburinho junto das empresas de segurança, só que não gerámos burburinho junto do mercado de clientes.”

Além disso, os guarda-costas não sentiam um compromisso com a Marclae. A tecnologia acabou por ser reaproveitada para uma aplicação móvel — Juntar a Junta — para relatar problemas em juntas de freguesia (ao enviar fotografias ou sugestões ao presidente). 

“A conclusão que tiro é que não nos devemos meter em negócios que não conhecemos. Ninguém nasce ensinado, mas se saímos muito da nossa área, o sucesso é difícil”, diz Novais. Hoje, é o director executivo de uma empresa para fabricar e exportar sistemas de iluminação. Vê a Marclae como uma experiência de aprendizagem. “Só falha quem não tenta”, diz. “Por breves momentos, pude brincar a dizer que era a pessoa mais protegida do mundo com 400 ‘close protection officers’.”

Sugerir correcção
Comentar