O ministro que tudo fez para Bolsonaro ser eleito está prestes a ser despedido

Gustavo Bebianno tem sido enxovalhado publicamente pelo Presidente e pelo seu filho Carlos. Tudo indica que na segunda-feira será afastado, por um caso de deputados fictícios para apropriação de fundos eleitorais.

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Gustavo Bebianno está à espera de ser exonerado Fábio Cavalcanti Ferreira/Planalto

É a primeira grande crise política do Governo de Jair Bolsonaro e, ao que tudo indica, vai levar ao afastamento de um ministro que foi o maior promotor da candidatura do ex-deputado brasileiro. O Presidente já terá assinado o decreto de exoneração de Gustavo Bebianno, como o próprio deixou entender aos jornalistas este sábado. “Eu quero ver o papel com a exoneração, a hora em que sair o papel com a exoneração é porque eu fui exonerado”, afirmou.

Não é exactamente uma revolta da criatura contra o seu criador, mas é uma demonstração de que o clã Bolsonaro – o Presidente e os seus filhos – se fecha como uma concha e ataca até mesmo os amigos de ontem. Mesmo que, como é o caso de Bebianno, seja apoiado pelos militares e pelo PSL, o partido que elegeu o Presidente.

As dificuldades de Bebianno começaram quando o jornal Folha de São Paulo revelou, numa série de reportagens, a existência de várias candidatas fictícias do PSL (Partido Social Liberal) e ao qual o ainda ministro da Secretaria Geral da Presidência presidiu entre Janeiro e Outubro de 2018.

Só uma destas candidatas, que praticamente não teve votos, recebeu 400 mil reais (95,5 mil euros) de verbas públicas para a sua campanha. Incluída nas listas à pressa, nas vésperas das eleições, para cumprir as quotas das mulheres, a candidata, Lourdes Paixão, diz que 95% da verba foi canalizada para uma pequena gráfica do estado de Pernambuco, para uma encomenda surreal: nove milhões de panfletos e 1,7 milhões de autocolantes.

Para dar vazão a este material de campanha, explicou à Folha, cada um dos distribuidores que contratou teria de distribuir 750 mil folhetos por dia, sete por segundo – isso se trabalhassem 24 horas seguidas.

Nesta altura, o PSL era dirigido por Bebianno, que “alugou” a sigla PSL ao seu líder, Luciano Bívar – hoje um dos vice-presidentes da Câmara de Deputados –, em troca de uma soma de 1,8 milhões de reais, provenientes dos nove milhões de fundos públicos a que o partido tinha direito. Por isso, é a Bebianno, sobretudo, que estão a ser pedidas responsabilidades.

Mas o caso ligou-se com a antipatia – ciúme? – que Carlos Bolsonaro, o filho do meio, já há muito dava sinais de nutrir por Bebianno, e a grande proximidade que conseguiu, durante a campanha, com o pai, Jair.

Carlos Bolsonaro atacou Bebianno nas redes sociais, chamou-lhe mentiroso por ter dito que já tinha discutido a crise com o Presidente – e foi retweetado pelo pai. O ministro tem passado os últimos dias a ser enxovalhado publicamente, mas recusou demitir-se – tem dito que só sai se for mandado embora por Bolsonaro. O que parece que vai acontecer.

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