As intercalares nos EUA em quatro pontos. Da regeneração democrata ao recorde de mulheres eleitas

Câmara democrata e Senado republicano fazem antever dois anos de tensão no Congresso norte-americano.

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EPA/BASTIAAN SLABBERS
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Numa das mais participadas e entusiasmantes eleições intercalares de sempre nos Estados Unidos, confirmaram-se as principais previsões: o Partido Democrata recuperou a Câmara dos Representantes e o Partido Republicano manteve o controlo do Senado.

Este desfecho faz antever um duro combate político no Congresso norte-americano para os próximos dois anos e dá também o pontapé de saída para as eleições presidenciais de 2020.

São estes os principais destaques da noite eleitoral de terça-feira:

1. Democratas reconquistam a Câmara dos Representantes

Pela terceira vez em 12 anos, o controlo da câmara baixa do Congresso dos EUA trocou de mãos. Em pleno processo de regeneração programática e identitária, o Partido Democrata deu esta terça-feira uma prova de força e conquistou a maioria da Câmara dos Representantes ao Partido Republicano, depois de um excelente desempenho nas grandes cidades e áreas urbanas dos EUA.

Os democratas necessitavam de tirar 23 assentos aos republicanos para lograr a maioria e cumpriram o objectivo. Com pouco mais de 20 lugares por confirmar, o Partido Democrata já "roubou" 26 ao Partido Republicano.

Uma maior vantagem sobre os republicanos dará aos democratas a margem de manobra necessária para fazer frente a Donald Trump  — o pedido de divulgação das declarações de impostos deverá ser uma das primeiras medidas na nova câmara — e para o pressionar através, por exemplo, da ameaça do início de um processo de destituição.

Na hora da vitória, a speaker do partido, Nancy Pelosi, anunciou “um novo dia” para os EUA e o regresso do controlo do Congresso ao Presidente, com a “restauração dos ‘checks and balances’ previstos pela Constituição”.

2. Republicanos mantêm maioria no Senado

Dos 35 lugares do Senado em disputa, 26 eram detidos por democratas, contra apenas nove dos republicanos, pelo que a vitória dos segundos na votação de terça-feira era expectável. E foi alcançada, depois de uma excelente prestação nas zonas rurais, nos estados tradicionalmente republicanos e junto das classes brancas trabalhadoras.

Numa altura em que faltam quatro lugares por confirmar, o Partido Republicano pode inclusivamente aumentar a actual maioria (51-49), para uma diferença superior a três senadores. Uma possibilidade que lhe daria margem de manobra para ultrapassar tudo o que possa vir de uma incómoda Câmara dos Representantes democrata ou para aprovar nomeações importantes para os tribunais federais e para o Supremo Tribunal.

O Partido Republicano conseguiu travar a onda de entusiasmo em redor do carismático Beto O’Rourke, no Texas — Ted Cruz manteve o lugar —, e, mesmo tendo perdido o Nevada para o Partido Democrata, conseguiu retirar-lhes pelo menos três senadores: no Indiana, no Missouri e no Dacota do Norte.

Trump catalogou a noite eleitoral republicana como um “tremendo sucesso”.

3. Início da campanha para 2020

O fim do monopólio republicano no Congresso dos Estados Unidos e a confirmação, através do voto, de que o país continua profundamente dividido, abrem alas para o início da campanha para as eleições presidenciais, agendadas para 2020.

Com caras novas e uma geração revigorada, bem-sucedida nestas intercalares, o Partido Democrata quererá encontrar entre as suas fileiras alguém que possa desafiar Trump. Ainda assim, terá pela frente um Senado previsivelmente mais comprometido com as políticas do seu Presidente e um Partido Republicano disposto a travar a ascensão de qualquer novo aspirante à Casa Branca.

A sustentar a expectável concentração de republicanos em volta de Trump, durante os próximos dois anos, há um outro dado, trazido pelas midterms de 2018 e destacado pela NPR. Os candidatos republicanos que decidiram afastar-se do Presidente e fazer campanha sem ele foram muito castigados nas urnas.

Carlos Curbelo (Florida), John Culberson (Texas), Kevin Yoder (Kansas), Barbara Comstrock (Virginia) e Mike Coffman (Colorado) são alguns dos exemplos apontados pela emissora que perderam os seus respectivos lugares na Câmara e que, com isso, fizeram notar a necessidade do Partido Republicano em ter de se agarrar ao seu líder máximo, para triunfar em 2020.

4. Democratas triunfam na diversidade

Os principais meios de comunicação norte-americanos já rotulam o ano de 2018 como “o ano da mulher”. Para além de terem votado mais do que o sexo oposto — 52% dos eleitores nas intercalares são mulheres, de acordo com as estimativas —, o sexo feminino está à beira de bater um recorde, com 96 mulheres na calha para a entrada na próxima Câmara dos Representantes, 76 delas oriundas do Partido Democrata.

Os democratas destacaram-se ainda pela eleição massiva de jovens, muçulmanos e representantes de diferentes etnias e contextos sociais, particularmente nas zonas urbanas.

Jarid Polis (Colorado), será o primeiro governador assumidamente homossexual; Ilhan Olmar (Minnesota) e Rashida Tlaib (Michigan) as primeiras mulheres muçulmanas a ser eleitas para a Câmara; Debra Haaland (Novo México) e Sharice Davids (Kansas), igualmente eleitas para a Câmara, serão as primeiras mulheres nativas-americanas no Congresso; e Alexandria Ocasio-Cortez (Nova Iorque) e Abby Finkenauer (Iowa), ambas com 29 anos, serão as mulheres mais novas de sempre na Câmara dos Representantes.

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