Empresários já têm uma base de dados para planear investimentos a Norte

A plataforma N-Invest, ainda em construção, totaliza 407 áreas empresariais e dá informações sobre os terrenos lá disponíveis, as infra-estruturas que as servem e as acessibilidades a auto-estradas, creches e instituições de ensino superior.

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O ministro Adjunto Pedro Siza Vieira tem dado a cara pelo projecto N-Invest. LUSA/RUI FARINHA

Um investidor que tenha na mira o Norte de Portugal para começar ou expandir o seu negócio já dispõe de um site para consultar não só as áreas empresariais e os lotes disponíveis para o instalar, mas também os serviços e infra-estruturas que funcionam na envolvente dessas áreas – ETAR, fibra óptica, ponto de recolha de resíduos urbanos e transportes públicos, por exemplo – e as distâncias mais próximas a infra-estruturas como o Aeroporto Francisco Sá Carneiro, o Porto de Leixões, auto-estrada, terminal ferroviário, creche e unidades de ensino superior e de alojamento.

A plataforma electrónica N-Invest, criada pela Associação Empresarial de Portugal (AEP) graças a um investimento de 985.000 euros – o programa Norte 2020 apoiou o projecto com 837.000 euros, com recurso ao FEDER  , visa a criação de uma “identidade comum entre o tecido empresarial da região” para facilitar a organização dos espaços empresariais e o aparecimento de novos investimentos, realçou o vice-presidente da associação empresarial, Luís Miguel Ribeiro, presente, na terça-feira, em Barcelos, na terceira sessão de apresentação da base de dados – passou, em Setembro, por Bragança e Carrazeda de Ansiães.

Convicto de que Portugal precisa de aumentar os volumes de investimento e de exportações para “crescer de forma sustentável” e de que a produtividade só pode subir com melhores equipamentos, o dirigente associativo realçou também que a base de dados é um instrumento para reduzir a burocracia – presta também informação sobre constituição de empresas e incentivos –, para sinalizar as empresas a operar em locais inadequados, para facilitar a ligação dessas mesmas empresas a organismos públicos e a centros de investigação, e até para potenciar a economia circular – ciclos de produção fechados, com recurso a matérias-primas antes utilizadas. Luís Miguel Ribeiro não conseguiu, para já, apresentar uma estimativa do montante que a plataforma vai ajudar a captar.

Além de mapear as empresas fornece ainda dados socioeconómicos sobre os 86 municípios e as oito sub-regiões – Alto Minho, Cávado, Ave, Área Metropolitana do Porto (AMP), Alto Tâmega, Tâmega e Sousa, Douro e Trás-os-Montes – que compõem o Norte, região que, segundo a AEP, está na origem de 40% das exportações do país e de 30% do PIB.

No final da sessão, a directora da AEP para a competitividade, Paula Silvestre, frisou que a N-Invest surge numa “fase crítica”, pouco antes do lançamento do próximo quadro comunitário, Portugal 2030, que vai incidir sobretudo nas áreas dos transportes e mobilidade, da acção climática e na dos custos energéticos, a seu ver, “essencial para a competitividade das empresas”.

Iniciado em Abril de 2017, o projecto está ainda em curso, tendo conclusão prevista para Março de 2019. Uma das iniciativas ainda em curso é um inquérito às Câmaras Municipais, a cargo da empresa de consultoria Ernst & Young. A iniciativa, explicitou o representante da empresa, Hermano Rodrigues, visa obter informação sobre o ambiente de investimento em cada município e sobre indicadores como modelo de negócio, estrutura accionista e estrutura de financiamento das empresas.

Empresários realçam necessidade de mais organização

A sessão de terça-feira decorreu num município da Comunidade Intermunicipal (CIM) do Cávado, que, segundo dados recolhidos de 2017 e de 2018 compilados pela AEP, é a terceira sub-região mais exportadora do Norte, com 2,56 mil milhões de euros, atrás da AMP (11,23 mil milhões) e do Ave (3,99 mil milhões), mas a segunda com mais despesas em investigação e desenvolvimento (97,7 milhões).

Actualmente na liderança da CIM Cávado, o presidente da Câmara Municipal de Braga, Ricardo Rio, realçou que a N-Invest traduz um compromisso entre empresários e poderes públicos para a “atracção de novos investimentos e para a expansão dos negócios já existentes”. O autarca deixou ainda o repto para outras entidades, como imobiliárias, disponibilizarem dados sobre a região, de forma a tornar mais rápida a pesquisa dos investidores.

Os empresários da região também marcaram presença. Proprietário de uma estamparia têxtil que começou a funcionar em 2009, em Barcelos, com três trabalhadores, Adelino Rafael viu-se obrigado a mudar de parque industrial, visto não ter espaço para expandir a empresa na primeira área empresarial que ocupou. O empresário constatou, durante a sessão, que muitos dos parques industriais não estão ajustados para investimentos de maior dimensão, quer por não estarem preparados para a expansão das empresas, quer por não estarem preparados para camiões TIR.

Outro empresário do ramo têxtil, César Vilas Boas, mostrou-se convicto que a plataforma vai ajudar as empresas a nível de organização. À frente de uma empresa de bordados há 22 anos, que tem 45 trabalhadores e obteve um volume de negócios de 1,2 milhões de euros em 2017, o responsável salientou que o parque industrial onde se encontra está retalhado por terrenos com casas, com áreas agrícolas e áreas florestais, mas, ao mesmo tempo, a deslocalização é proibitiva pelas indemnizações que teria de pagar. “Talvez o Plano Director Municipal esteja mal organizado”.

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