Tempo de acordar

Portugal precisa de um espaço político que não se defina pelo que aceita do socialismo, mas pelo que planeia fazer de diferente dele.

O corrente ciclo político em Portugal perderá o encanto se for encarado como uma verdade absoluta. Para a contrariar, começamos por rejeitar que exista somente uma opção: a maioria absoluta da esquerda. Desde a fundação do atual regime que o país foi agraciado com um conjunto de personalidades empenhado em impedir o oposto disso mesmo. Pela nossa parte, queremos ser mais três.

De Adelino Amaro da Costa e Francisco Sá Carneiro a Pedro Passos Coelho e Paulo Portas. Todos eles – em circunstâncias contrastantes, durante tempos distintos e com abordagens particulares – sabiam que a hegemonia ideológica de um só bloco não traria qualquer prosperidade ou progresso à nossa democracia. Lutaram contra isso e venceram por isso. Conheciam as quatro páginas fundamentais sob as quais, ainda hoje, assenta o poder: local, regional, nacional e europeu.

Atualmente, a direita precisa, mais do que nunca, de uma agenda que preencha essas quatro páginas. Uma agenda que seja mais aspiracional do que instrumental. Com visão, além de técnica. Em alta voz e sem recear o grito. Não apenas com causas, mas assente em respostas. Que afirme o triunfo da alternativa sobre a alternância de poder. Sem que o tacticismo interno afaste a possibilidade de uma estratégia comum. Competente ao ponto de se tornar uma aragem fresca e oferecer um vislumbre de esperança. Um programa que se foque tanto nos seus meios quanto no seu fim.

Ora, olhemos para as bandeiras: de nada vale apelar ao combate ao despesismo e pedir rigor nas contas públicas, não explicando o que será feito depois dessas contas estarem sãs; lutar para remover a extrema-esquerda do poder, não explicando as reformas que essa esquerda nunca fará. No limite, não se poderá correr o risco de pedir maiorias parlamentares sem clarificar – ponto por ponto – em que estarão elas empenhadas caso aconteçam. Ou seja: este espaço político a que chamamos direita não se pode dar ao luxo de ser surdo sobre o seu passado, cego sobre o seu presente ou mudo sobre o seu futuro.

Sobre esse futuro – sobre a sua mudança –, Portugal precisa de um espaço político que não se defina pelo que aceita do socialismo, mas pelo que planeia fazer de diferente dele. Precisa de sonho e, ao mesmo tempo, de consequência. De não esquecer o legado consolidado de valores que recebeu, nem tão-pouco demitir-se de projetar um país a pensar nos que se seguirão. É tempo de acordar. Agora.

Diogo Agostinho, social-democrata
Francisco Rodrigues dos Santos, democrata-cristão
Sebastião Bugalho, independente

Os autores escrevem segundo o novo Acordo Ortográfico

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