Ir e não ir na boa

O homem dizia que, se ela fosse para casa, ele também ia. Mas, logo a seguir, desafiava-a a vir sair: "Anda lá, vais gostar..."

Era um grupo que tinha jantado (e regado) bem. Era meia-noite e alguns casais queriam ir beber um copo. Mas havia um casal em que a mulher queria ir para casa mas o homem hesitava.

A mulher e o homem pareciam dar-se muito bem. O homem dizia que, se ela fosse para casa, ele também ia. Mas, logo a seguir, desafiava-a a vir sair: "Anda lá, vais gostar..."

A mulher não queria voltar para casa sozinha mas também não queria passar por estraga-prazeres e então repetia esta frase portuguesíssima: "Se quiseres ir, na boa..."

Ao princípio ouvia sem a vírgula, como primeira parte de um acordo: "Se quiseres ir na boa..." Mas faltava sempre a segunda parte, por exemplo "não voltes mais tarde do que as duas" ou "não bebas muito e volta de táxi".

Assim sendo, este formidável "na boa" significa "vai que não nos vamos zangar por causa disso". Também pode querer dizer "vai que, por mim, tudo bem".

O homem respondia "não, deixa estar, gosto mais de ficar contigo, tu sabes isso...Mas anda lá, vamos os dois..."

A ela (e a mim) a resposta soava a uma versão delicodoce de "não sejas chata..."

E, por isso, ela insistia "se quiseres ir, na boa..."

A ele (e a mim) soava a uma versão publicamente aceitável de "estás doido para sair sem mim e eu estou-me nas tintas para isso".

Mas não estava. Iria haver represálias. Ela estava a fingir que lhe estava a dar licença para sair sem ela e por isso oferecia uma saída: "se quiseres..."

Ele não foi, claro. Foram para casa de mãos dados, ambos mais felizes do que antes. 

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