Cartas ao director

Entrevista a Filipa Raimundo

O “presentismo” (ou “presencismo”), conceito elaborado pelo historiador François Hartog para caracterizar os tempos actuais em que parece que tudo começa hoje e que o passado é desvalorizado, é algo de terrível para os historiadores e para a autoria. Digo isto a propósito de uma entrevista conduzida por São José Almeida, publicada no vosso jornal em 17 de Setembro, a propósito de um livro que – creio – refere o estado da arte sobre a Justiça transicional em Portugal relativa aos elementos da PIDE/DGS. A jornalista pergunta a dado passo: “Há um facto divulgado por si que é relevante. Em tribunal militar foram julgados 2667 agentes da PIDE/DGS, a polícia política. Porque ninguém fala disto?” Ora, penso que, ao abordar o assunto, a jornalista deveria ter estudado se alguém referiu anteriormente o assunto. E, no meu livro O Caso da PIDE/DGS. Foram julgados os principais agentes da Ditadura portuguesa?, publicado em 2017, apresentado pelos historiadores Enzo Traverso e Rui Bebiano no âmbito de “Livros no Aljube”/Capital Ibero-Americano da Cultura 2017”, estudo precisamente esse tema, em 664 páginas. Além desse número, contabilizado pelos Serviços de Coordenação e Extinção da PIDE/DGS, eu apresento muitos outros dados numéricos a partir dos quais argumento e interpreto. O livro é o resultado de nove anos de investigação, no âmbito de um projecto coordenado por mim, com a historiadora Maria Inácia Rezola (e onde inicialmente Filipa Raimundo se integrou, saindo depois), e no âmbito de uma investigação de pós-doutoramento individual da minha autoria ambos financiados pela Fundação para a Ciência e tecnologia.

Satisfeita com o facto de se continuar a investigar o tema, penso que o pioneirismo deve ser atribuído a quem de direito e a trabalhos anteriores, na certeza de que a “história” não começou hoje. Aproveito ainda para esclarecer que já há muito trabalho de investigação realizado sobre o período pós-25 de Abril de 1974, em Portugal, como é o caso das Campanhas de Dinamização Cultural e Acção Cívica do M.F.A. (1974-1975), objecto de estudo de Sónia Vespeira de Almeida e publicado em livro em 2009.

Irene Flunser Pimentel

Ryanair não cumpre lei laboral
Tripulantes de cabine da companhia aérea Ryanair fizeram greve pelas suas deprimentes condições laborais. Trabalhadores de Portugal, Espanha, Holanda, Itália e Bélgica farão nova greve conjunta, também por melhores condições salariais. Fazê-la é um acto de coragem e que o digam os portugueses, alvo de retaliações inqualificáveis por parte do patronato. Não admira que esta empresa pratique custo de transporte baixo… O direito à greve, em Portugal, está consagrado na lei laboral!

Vítor Colaço Santos, Areias

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