Murchou uma estrela

Um registo mais controlado do que o mega-sucesso A Mamã, os Rapazes e Eu, de Guillaume Gallienne, Marilyne não é muito mais interessante.

Maryline é interpretada por Adéline d’Herny
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Segunda longa-metragem de Guillaume Gallienne, depois do mega-sucesso de A Mamã, os Rapazes e Eu, que limpou os Césares em 2013 mas era um filme de uma histeria muito difícil de suportar. Embora, como um trejeito, essa histeria também se manifeste em Marilyne (sobretudo quando Galliene dá rédea solta à protagonista, Adéline d’Herny), estamos apesar de tudo num registo mais controlado.

Não forçosamente muito mais interessante: se Gallienne continua a “reflectir”, e agora ainda mais, sobre o “espectáculo” (através da evolução de uma jovem actriz, vinda da província, nos meandros do cinema), Maryline acumula lugares-comuns no confronto entre o idealismo, progressivamente ferido, da protagonista, e a mesquinhez auto-interessada de praticamente toda a gente que com ela se cruza nos escritórios de produtores ou nos “plateaux” de rodagem.

Lembra mais aquela ingenuidade, falsa, pré-fabricada e muito calculista, de uma Amélie Poulain, do que a lucidez magoada (e efectivamente muito cruel) de clássicos do género como Nasceu uma Estrela ou All About Eve. Entretido com a construção de uma  via crucis para a sua personagem, Gallienne escolhe o caminho mais batido e mais desinteressante. Resta, no que podia ser uma boa ideia “fetichista” (mas não chega bem a ser: falta perversidade), o facto de, como se brincasse com uma “boneca”, fazer de Maryline uma sucessão de “quadros” (e de citações mais ou menos voluntárias), com as cenas de rodagem de cada novo filme em que a protagonista trabalha a oferecerem-lhe um novo “modelo”, um novo “ambiente” e um novo “registo” (do cinema mais “popular” ao mais “intelectual”). Mas também isto, que até faz uma aproximação porventura consciente a alguns aspectos típicos do melodrama almodovariano, se desperdiça numa inconsequência que nada vem resolver. 

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