Grupos de Hollywood lançam apelo a maior representação transgénero

"Acreditamos que estamos num momento cultural sem precedentes – um momento em que podemos pedir a Hollywood para usar seu poder para mudar a compreensão sobre as pessoas trans", argumenta uma carta aberta publicada numa edição especial da revista Variety.

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A Variety dedica a sua mais recente edição à representação das pessoas trans na indústria cinematográfica DR

Quase meia centena de empresas de produção, agências de talentos, estúdios cinematográficos e grupos de pressão defendem o reforço da representação da comunidade LGBT Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgéneros) no cinema, apelando a Hollywood que use o seu poder para contar histórias autênticas. Numa carta aberta publicada na revista Variety – que dedica a sua mais recente edição ao assunto, depois de em Janeiro de 2016 se ter debruçado sobre a persistência da discriminação das mulheres e das minorias pela indústria –, as organizações LGBT GLAAD e o 5050by2020 (uma iniciativa estratégica dentro da organização Time's Up) instam os estúdios a darem prioridade às histórias relacionadas com pessoas transexuais.

Esta mobilização sem precedentes surge na sequência da polémica em torno do filme Rub and Tug, no qual Scarlett Johansson deveria interpretar um homem transgénero. A actriz acabou por abandonar o projecto na sequência de protestos daquela comunidade.

Antes de apelar directamente aos decisores da indústria para trabalharem no sentido de uma mudança significativa, a carta cita algumas estatísticas negras acerca da vida trans num país como a América: "Nos últimos 18 meses, pelo menos 44 mulheres trans, a maioria das quais não-brancas, foram assassinadas. A taxa de desemprego para pessoas trans é o triplo da média nacional, e 40 por cento das pessoas trans já tentaram suicidar-se, uma taxa que diminui para 4,6 por cento quando considerada toda a população."

"Acreditamos que estamos num momento cultural sem precedentes – um momento em que podemos pedir a Hollywood para usar seu poder para melhorar a vida das pessoas trans, mudando a compreensão dos Estados Unidos sobre quem são as pessoas trans", argumentam os signatários, que prosseguem: "Queremos ajudar-vos a contar as nossas histórias ricas e diversificadas, e para tal precisamos da vossa ajuda."

Entre os signatários incluem-se as principais agências de talentos de Hollywood, como a CAA, a ICM Partners, a UTA e a WME, e empresas de produção como a Array Alliance, a Bad Robot, e a Act III. Outras organizações envolvidas incluem a Casting Society of America, a Participant Media e a Guilda dos Actores.

"Hollywood conta histórias que ajudam as pessoas a entenderem como se sentem em relação a si mesmas e às outras pessoas, à sua volta, que são diferentes", prossegue a carta. "Como disse Roger Ebert, o cinema é uma máquina de empatia. Sabemos que projectos como Ellen, Will & Grace, O Segredo de Brokeback  Mountain, Milk e Moonlight ajudaram a derrubar estereótipos sobre gays e lésbicas, e a caminhada para a igualdade no casamento teria sido muito diferente sem eles. Mulheres, pessoas de cor, pessoas com deficiências e diversos grupos religiosos deixaram claro que querem mais histórias autênticas sobre as suas vidas nos filmes e na televisão. As pessoas trans sentem o mesmo", pode ler-se ainda.

Além da carta, o GLAAD e o 5050by2020 também criaram um guia de recursos para os estúdios e as empresas usarem quando procurarem escritores e talentos trans. Este documento detalha como criar papéis autênticos e como tornar os ambientes de trabalho seguros e "trans-inclusivos".

Este movimento foi desencadeado na esteira do escândalo sobre casos de assédio sexual e discriminação de género em Hollywood, e passou a incluir outras causas, explica a co-fundadora do 5050by2020 Jill Soloway, em entrevista à Variety.

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