Fogo de Monchique já destruiu mais de 16.500 hectares

Fogo já integra lista dos mega-incêndios em Portugal, mas longe da ocorrência mais destrutiva, que o ano passado queimou mais de 55 mil hectares na Lousã

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Incêndio já faz parte da lista de mega-incêndios em Portugal. LUSA/MIGUEL A. LOPES

O incêndio que destrói o concelho de Monchique desde a passada sexta-feira já queimou pelo menos cerca de 16.500 hectares de espaços rurais, segundo um cálculo aproximado feito pelo engenheiro florestal Paulo Fernandes, professor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, através da análise de imagens de dois satélites.

A avaliação foi feita esta manhã, mas as imagens foram tiradas durante a noite, o que significa que tudo o que ardeu esta segunda-feira não está contabilizado. Por isso, o especialista, que fez parte das duas comissões técnicas independentes que analisaram os fogos do ano passado, considera que a área ardida deste fogo pode vir a ultrapassar os 20 mil hectares.

Independente deste valor ser atingido, esta ocorrência já integra a lista dos maiores mega-incêndios em Portugal, liderada pelo fogo do ano passado da Lousã, que queimou mais de 55 mil hectares. No relatório da comissão técnica que analisou os incêndios de Outubro passado, o fogo aparece contabilizado, através de imagens de satélite, com 65 mil hectares, um valor que, segundo Paulo Fernandes, foi revisto em baixa, já que dentro do perímetro do fogo houve várias “ilhas que não arderam”.

 A lista dos mega-incêndios, fogos com mais de 10 mil hectares, reúne 26 ocorrências a partir de 1986, duas das quais em Monchique, ambas em 2003. Numa arderam naquele concelho algarvio mais de 17 mil hectares e noutra mais de 13 mil. Dos dez maiores fogos, sete ocorreram o ano passado, um grupo que fecha com o incêndio do Gavião, em 2003, que destruiu cerca de 20 mil hectares.

Apesar dos prognósticos positivos feitos ao início da tarde relativamente à situação de Monchique, Paulo Fernandes já avisava que com o aproximar do fim da tarde a situação poderia piorar como veio de facto a suceder. “Ontem [domingo] os ventos mais do que duplicaram da tarde para a noite. Mesmo que a temperatura desça com a noite e a humidade do ar suba, o efeito do vento continua a ser mais determinante”, explicava. 

“Este incêndio estava escrito que ia acontecer”, afirma Paulo Fernandes, que lembra que o modelo que usa habitualmente para estimar o risco de fogo apontava logo no primeiro dia em que as condições meteorológicas se mostravam excepcionais para um risco de 23% no Algarve. “Com o acumular de dias nas mesmas condições a probabilidade aumentava”, justifica o professor da UTAD.

Monchique aparecia, aliás, no topo da lista de locais com maior probabilidade de terem grandes incêndios este ano, segundo um estudo que reunia vários especialistas da Universidade de Lisboa, nomeadamente alguns do Instituto Superior de Agronomia (ISA). Um dos seus autores, o investigador José Miguel Cardoso Pereira, explica porquê: “Historicamente é uma zona de grandes incêndios, tem uma grande área de floresta ou mato e há 15 anos que acumulava combustível sem arder. A tempestade perfeita”. Antes, lembra, ocorreram incêndios em 1983, em 1991, em 1995 e em 2003. As limpezas feitas este ano só permitiram proteger “a cercania das casas e das povoações”, o que, acredita, evitou consequência mais dramáticas.

O investigador do ISA insiste que é preciso intervir sobre a ocupação do solo, já que as condições meteorológicas severas vão ser cada vez mais frequentes. “Há sítios excessivamente florestados. Era preferível termos menos espaços florestais e mais compartimentados”, sublinha Cardoso Pereira.

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