Salvini processa Roberto Saviano por difamação

Em causa estão posts publicados pelo jornalista e escritor italiano, no qual se refere a Salvini como “bandido" e mafioso.

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O escritor e jornalista Roberto Saviano Pedro Nunes
Matteo Salvini, Itália, Relações Públicas
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Matteo Salvini é o líder da Liga, partido de extrema direita TONY GENTILE/Reuters

O ministro do Interior italiano, Matteo Salvini, processou o escritor e jornalista Roberto Saviano por difamação. Em causa está uma série de posts do Facebook publicados pelo escritor em Junho, nos quais se refere a Salvini como “bandido” e mafioso. O anúncio da apresentação da queixa foi feito esta terça-feira numa publicação do Twitter de Salvini. 

Salvini, que é também o líder da Liga, o partido italiano de extrema-direita, assegurou que aceita críticas, mas considera inaceitável que Saviano sugira a existência de uma ligação entre si e o crime organizado. "Já apresentei a queixa contra Saviano, como havia prometido. Aceito críticas, não aceito é que digam que compactuo com a máfia, uma merda que combato com todas as minhas forças, e ainda que digam que fico feliz por ver uma criança morrer", escreveu o ministro no tweet.

Roberto Saviano comentou a queixa levantada contra ele, acusando o líder da Liga de ter “medo das vozes críticas”, segundo avança o jornal britânico Guardian.

O primeiro dos posts do Facebook que estão na base da queixa apresentada por Salvini foi publicado por Saviano no dia 12 de Junho, lê-se num artigo da edição italiana do Huffpost, que teve acesso ao documento da queixa apresentado à polícia de Roma. Nesse primeiro post, que também foi publicado na conta de Twitter do escritor, Saviano disse que os ministros Matteo Salvini e Danilo Toninelli, ministro dos transportes, se comportavam como "bandidos" por causa das novas políticas italianas contra os migrantes.

Desde então, a tensão entre o escritor e o líder da Liga aumentou, com Salvini a ameaçar processar Saviano e este a insistir nas críticas ao Governo e à sua política. Na última terça-feira, Saviano voltou a falar dos resultados da política de migração, publicando um tweet com uma fotografia dos corpos de uma mulher e de uma criança a flutuarem, sem vida, no mar Mediterrâneo e responsabilizando o ministro do Interior pelas mortes de migrantes que o Governo italiano recusa acolher. "Diga-me ministro da má-vida [em italiano é sinónimo de máfia], como um homem, que se diz um pai de família, quanto prazer tem ao ver crianças morrer no mar? Ministro da má vida, o ódio que tem semeado será o mesmo que o irá derrubar", lê-se no tweet.

Em Junho, na sequência da recusa de Salvini em receber em solo italiano os 629 migrantes que estavam a bordo do navio da ONG SOS mediterrâneo Aquarius, Roberto Saviano escreveu uma crónica publicada no Guardian, na qual comentava a decisão. No texto, o escritor alertava para um emergente retrocesso civilizacional na sociedade italiana, acompanhado pelo florescimento do nacionalismo. "A sociedade italiana está a dar passos para trás a nível civilizacional devido ao florescimento do nacionalismo, demonstrando uma visão racista perante todo aquele que é diferente", escreveu o escritor. Passados alguns dias após a publicação do artigo, o ministro do Interior ameaçou que retiraria a protecção policial a Saviano.

O escritor tem vivido sob protecção policial desde 2006, depois de ter publicado o best-seller Gomorra, onde falava sobre o tempo que passou infiltrado na máfia napolitana. As revelações às ligações comerciais e políticas dos dirigentes criminosos feitas no livro tornaram Saviano um alvo óbvio de ameaças por parte dos grupos de crime organizado onde o jornalista esteve infiltrado.

Texto editado por Nicolau Ferreira

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