Portugal é dos países onde mais se vê Netflix em público

Os portugueses preferem comédia e romance a filmes de acção, gostam de espreitar o ecrã do vizinho, e trocam o lanche pelas séries numa viagem.

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Em Portugal, as comédias e os romances geram mais interesse do que os filmes de acção Reuters/MIKE BLAKE

Hoje, depois de quase três anos em Portugal, o Netflix sabe que os portugueses preferem uma boa comédia ou um romance a um filme de acção. Também são dos que mais vêem cinema e televisão em público, seja no café, no restaurante, ou no comboio a caminho do trabalho. E quem tem este hábito prefere ter acesso a filmes e séries em vez de comida numa viagem. Nem sempre foi assim.

Numa conversa com o PÚBLICO, Yann Lafargue, o responsável pelo departamento de tecnologia e comunicação empresarial do Netflix na Europa, disse que demorou a perceber os costumes dos portugueses. “Quando lançamos o nosso produto num mercado novo, baseamos tudo em hipóteses e suposições – demora sempre tempo até se aprender o que um mercado realmente gosta”, explicou Lafargue. “Tínhamos vindo com a ideia de que filmes de acção eram muito populares mas, na realidade, há um grande apetite por comédias românticas e por ficção científica.”

A criação de parcerias locais – por exemplo, com a Vodafone e, mais recentemente, com a Altice – também permite perceber melhor o mercado. “Nestes anos, foi importante educar a população portuguesa sobre o conceito de streaming”, diz Lafargue. O problema, explica, é apresentar o conceito a quem nunca viu televisão neste formato, em vez de lutar contra as pessoas habituadas a piratear conteúdo. “Há muita pirataria em todo o lado. É inegável. Em alguns países, é quase uma religião.”

Lafargue, diz que o foco do Netflix é perceber a forma como diferentes países consomem cultura para adaptar a oferta. Num questionário da empresa, feito a 38.815 utilizadores em todo o mundo, Portugal surge como um dos países onde mais se viu Netflix fora de casa no último ano (dois terços dos utilizadores), depois de Espanha e Itália (e, destes, cerca de 60% afirmam que já apanharam pessoas a espreitar o seu ecrã).

"Os dez títulos mais populares tendem a ser iguais em todo o mundo, embora com uma ordem diferente. O que muda mesmo é forma como são vistos. As pessoas gostam de histórias de qualidade”, acrescenta Lafarge. Em 2017, séries como o drama de adolescentes norte-americano Riverdale, e a série Punho de Ferro, da Marvel, estavam em todas as listas. A grande diferença no top português actual face a outros países é a presença de O Mecanismo, a série brasileira sobre política que segue a investigação de alegada corrupção governamental com petrolíferas.

“Não queremos séries focadas em países específicos, apenas boas histórias”, diz Lafargue. Em 2018, o catálogo de filmes e séries disponíveis em Portugal está cinco vezes maior do que era em 2015.

O streaming de conteúdos é cada vez mais a forma escolhida para se ver filmes e séries. Além do Netflix, o Amazon Prime Video, e a aplicação NOS TV também permitem aos utilizadores ver televisão dentro e fora de casa. Quando questionado sobre o seu maior concorrente, Lafarge responde que é o tempo livre. “Para nós, concorrência a sério não são outros serviços de streaming, legais ou ilegais – é tudo aquilo que se pode fazer no tempo livre”, explica. “Temos uma janela de 90 segundos a dois minutos, depois de alguém entrar na nossa plataforma, para encontrar algo que quer ver antes de decidir fazer outra coisa com o tempo livre, seja ler, jogar futebol ou discutir com alguém. Temos de acertar no conteúdo.”

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