Acabou-se a mama

Que bem que me tem sabido a doçura abjectinha dos mails que me têm mandado, implorando-me para lhes dar os meus dados pessoais para eles poderem continuar a chatear-me.

Mail: Continue connosco, Miguel ou Miguela. Nós respeitamos a sua privacidade. Queremos ajudá-lo ou -la a proteger os seus dados. Como sabe no dia 25 de Maio entra em vigor o novo RGPD cujas iniciais esperamos que o ou a confundam ao ponto de não ir ver o que é. Se quer continuar a receber as nossas ofertas irresistíveis e ser o primeiro a saber das nossas promoções loucas clique aqui. Se não o fizer nós já não poderemos mais massacrá-lo durante o resto da sua vida e vida eterna.

Tradução: Raios partam os chatos da União Europeia! Agora estão armados em protectores do pessoal e obrigam-nos a ter de ir pedinchar que nos deixem fazer com os seus dados o que sempre fizemos sem problema nenhum: tudo o que nos apetece.

Lição: Que bem que me tem sabido a doçura abjectinha dos mails que me têm mandado, implorando-me para lhes dar os meus dados pessoais para eles poderem continuar a chatear-me e, ao mesmo tempo, vendê-los aos mega-exploradores para rentabilizá-los.

Nenhum dos mails tem o mais pequeno indício de um toque pessoal. É isso que torna o exercício tão sinistro. Dirigem-se a mim com um tom amistoso de quem me conhece e gosta de mim mas toda a gente recebe o mesmo mail simplório, mal redigido e preguiçoso.

Dos milhares de mails que recebi só três (um deles português) estavam bem escritos e tentavam fazer sorrir. Os outros fediam a pânico ou a indiferença mecânica.

Não foi preciso fazer nada - só bocejar. Que glorioso é poder cair, sem esforço algum, em tão doce esquecimento!

 

 

 

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