Morreu o cineasta brasileiro Nelson Pereira dos Santos

Realizador e argumentista tinha 89 anos e fica, como outros da sua geração, ligado a uma verdadeira revolução na linguagem cinematográfica brasileira - o Cinema Novo. Esteve em Portugal várias vezes e numa delas ficou à conversa com o público e com o cineasta Manoel de Oliveira.

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O realizador brasileiro Nelson Pereira dos Santos fotografado em Serralves, no Porto Paulo Pimenta

O cineasta brasileiro Nelson Pereira dos Santos, um dos precursores do Cinema Novo do Brasil e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), morreu no sábado, aos 89 anos, noticiou hoje a imprensa brasileira.

Protagonista do movimento que reformulou a linguagem do cinema no Brasil na década de 1960, realizador e argumentista de longas-metragens como Vidas Secas (1963) e Rio 40 Graus (1955), Nelson Pereira dos Santos estava internado num hospital do Rio de Janeiro desde 12 de Abril, onde lhe foi diagnosticado um tumor no fígado.

Nascido em São Paulo e advogado de formação, Nelson Pereira dos Santos, que faria 90 anos em Outubro, foi também jornalista nos jornais Diário da Noite e O Tempo.
O realizador trabalhava ainda na programação cultural da Academia Brasileira de Letras, e um dos seus últimos filmes foi o documentário A música segundo Tom Jobim, lançado em 2012, título que teve estreia em Portugal no Festival de Cinema Luso-Brasileiro de Santa Maria da Feira.

Em Junho do ano passado, Nelson Pereira dos Santos foi uma das personalidades convidadas para a Academia de Cinema de Hollywood, à semelhança do seu compatriota Kléber Mendonça Filho e do português Pedro Costa.

Nelson Pereira dos Santos estreou-se no cinema com Rio 40 Graus, um trabalho semidocumental rodado na rua, com cenários e diálogos naturais, que tem o calor como um dos seus "protagonistas", além de cinco pequenos vendedores de amendoim, vindos das favelas, que contam as suas histórias.

Em 1968, fez a montagem de Barravento, de Glauber Rocha, selecionado para a primeira Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes (1969).

Pereira dos Santos ficou conhecido por filmes como Vidas Secas (1963), Como Era Gostoso o Meu Francês (1971), O amuleto de Ogum (1974), Tenda dos milagres (1977) e Brasília 18% (2006).

Para televisão, dirigiu Casa Grande & Senzala (1998), sobre a obra de Gilberto Freyre, série rodada parcialmente em Portugal.

Em 2002, recebeu o prémio de carreira do Los Angeles Latino International Film Festival e, seis anos mais tarde, o da Federação Internacional de Arquivos Fílmicos (FIAF).

Os seus filmes foram selecionados para festivais como os de Cannes, Berlim, Veneza ou San Sebastian, tendo recebido diferentes prémios, nomeadamente o da crítica, em Cannes, com Memórias do Cárcere (1984).

Em 2013, o DocLisboa, festival internacional de cinema documental, exibiu Rio 40 Graus, no ciclo Neo-Realismo e Novos Realismos.

Nelson Pereira dos Santos foi também o convidado de honra do 15.º Festival de Cinema Luso-Brasileiro de Santa Maria da Feira, em Dezembro de 2012, e esteve em Guimarães - Capital Europeia da Cultura, para um encontro com o cineasta português Manoel de Oliveira.

Na altura, manifestou interesse em filmar a história de Pedro II, o último imperador do Brasil, e disse que a génese do Cinema Novo brasileiro estava na literatura. Como Manoel de Oliveira, admitiu que trabalhava no cinema por fé na arte.

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Em Dezembro de 2011, à conversa com Manoel de Oliveira (à dta.), em Guimarães Adriano Miranda

Nelson Pereira dos Santos foi homenageado em Setembro do ano passado pelo Festival de Brasília, que lhe dedicou uma retrospectiva. Os cineastas presentes no encontro na capital brasileira subscreveram esta homenagem e lembraram à Ancine - agência pública brasileira de apoio à produção cinematográfica - que o realizador estava vivo e continuava a ter projectos para filmar.

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