Malala regressa ao Paquistão pela primeira vez depois de ter sido baleada

A activista que luta há anos pelo direito de todos à educação não deve ir até à sua cidade-natal por questões de segurança. Yousafzai foi baleada em 2012 quando voltava da escola, tendo ficado em estado crítico.

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A activista Malala Yousafzai LUSA/FACUNDO ARRIZABALAGA

Malala Yousafzai, a mais jovem laureada com o Prémio Nobel da Paz (em 2014), regressou ao Paquistão pela primeira vez depois de ter sido baleada em 2012, quando tinha 15 anos, por contestar a decisão dos taliban de proibir a educação feminina. Segundo a BBC, a activista deverá ficar no país durante quatro dias e já se encontrou com o primeiro-ministro paquistanês, Shahid Khaqan Abbasi – a AFP explica que não foram divulgados muitos pormenores sobre a sua visita ao país onde nasceu, por questões de segurança.

“É o dia mais feliz da minha vida. Nem acredito que isto está a acontecer”, afirmou Malala, em lágrimas, num pequeno discurso divulgado na televisão paquistanesa. “Eu não costumo chorar… Ainda só tenho 20 anos, mas já vi tantas coisas na minha vida”, concluiu, depois de o primeiro-ministro lhe desejar as boas-vindas ao país. Malala foi até ao Paquistão na companhia do pai e do irmão mais novo.

Ainda que tenham sido tomadas medidas para reforçar a segurança no Paquistão, os taliban continuam em actividade, tendo sido acusados de ataques em escolas e universidades que causaram centenas de mortos. Malala Yousafzai considerou que a sua terra-natal, Swat, era o “paraíso na Terra” e que a população estava sedenta de mudança, razão que a levava a trabalhar em projectos lá — “mas quero que os meus pés pisem aquela terra”, disse, tendo noção de que tal não deve acontecer tão cedo por questões de segurança.

Yousafzai nasceu no Paquistão a 12 de Julho de 1997 e tornou-se um símbolo internacional da luta pelo direito à educação das mulheres depois de ter sido baleada, em 2012. Foi quando regressava de autocarro da escola, aos 15 anos, que apareceram dois homens armados que a atingiram a tiro na cabeça e num ombro; ficou internada em estado crítico num hospital militar paquistanês, sendo mais tarde transferida para um hospital britânico. Sobreviveu ao ataque e ficou para contar a história e lutar pelos direitos de milhares de pessoas.

Agora, com 20 anos, Malala vive no Reino Unido e continua a ser uma ávida defensora dos direitos humanos – sobretudo no que diz respeito à educação feminina; no ano passado, entrou na Universidade de Oxford, onde estuda filosofia, política e economia. Há quatro anos, dizia à BBC que gostava de ter uma carreira política: “Se puder servir melhor o meu país através da política e, sendo primeira-ministra, escolheria isso”. “Quero servir o meu país, e o meu sonho é que o meu país se torne um país desenvolvido e que eu veja todas as crianças com acesso à educação”, acrescentava. 

Em Abril do ano passado, António Guterres nomeou-a como mensageira da paz da ONU (uma designação que reconhece figuras que ajudam a despertar a consciência mundial para os ideais e actividades das Nações Unidas), com especial enfoque na educação das raparigas. 

Já antes de ser baleada e antes de os taliban terem proibido as meninas de poderem ir à escola, a jovem activista paquistanesa era considerada um símbolo da resistência (tendo chegado a receber várias distinções internacionais pelo seu percurso). “No caminho para a escola eles podem matar-nos, atirar-nos com ácido para a cara, fazer o que entenderem”, dizia ao New York Times, uns anos antes de ser agredida. “Mas eles não podem parar-me, eu vou ter a minha educação.” 

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