Sociedade de risco rentabilizou horas extras

Quaresma e Ronaldo puxaram dos galões já no tempo de compensação e deram a volta ao Egipto. Portugal mantém o sadio hábito de ganhar.

Foto
LUSA/PAULO NOVAIS

Pela esquerda ou pela direita, de bola corrida ou parada, pelo ar ou pelo chão, a sociedade Quaresma-Ronaldo conhece diferentes caminhos para chegar ao destino. Há anos que os dois talentos partilham o balneário da selecção e isso ajuda a explicar por que razão se entendem praticamente de olhos fechados. Quando tudo o resto falha, Portugal pode sempre agarrar-se a esta sociedade de risco. E nesta sexta-feira, em Zurique, na Suíça, esta bóia de salvação foi lançada à água quando a equipa já estava sem ar, transformando um naufrágio iminente, diante do Egipto, numa viagem até porto seguro (2-1).

Vale o que vale um triunfo no arranque da preparação para o Mundial 2018. Especialmente um triunfo que não pode correr o risco de mascarar as dificuldades que o campeão europeu sentiu diante de um adversário organizado, mais combativo e com índices de agressividade mais elevados. Mas a verdade é que a cultura das vitórias não é algo que se queira perder e, nesse particular, Fernando Santos tem trazido à selecção portuguesa toda uma nova rotina — a de ganhar umas vezes e de ir ganhando noutras.

Beto na baliza, Rolando no eixo da defesa e Rúben Neves (protagonista de uma enorme temporada no Wolverhampton) na posição seis, foram três as novidades lançadas no “onze”. Em 4x4x2, com Bernardo Silva e João Mário nas alas e André Silva e Ronaldo no ataque, Portugal parecia ter as bases necessárias para pôr em causa a solidez defensiva do Egipto, mas raramente o conseguiu fazer. Os “falsos” extremos exploraram pouco as dinâmicas do jogo interior e facilitaram a vida a um adversário que, em 4x2x3x1, com Mohamed Salah como jóquer, ia controlando os ritmos à espera de poder acelerar no contragolpe.

Entre um penálti por assinalar a favor de Portugal (mão na bola de Trézéguet) e um golo anulado a Rolando (por fora-de-jogo), o Egipto ameaçava com diagonais interiores e condicionava a saída de bola com pelo menos dois homens na pressão sobre o último terço. E os médios portugueses, mesmo quando ultrapassavam essa barreira inicial, resistiam a acelerar e permitiam que os africanos se reorganizassem.

Intervalo no Estádio Letzigrund e tudo na mesma no reatamento. Se havia uma excepção, era a previsibilidade e o ritmo baixíssimo da circulação de bola do campeão europeu, que sofreu um rude golpe aos 56’, quando o esquerdino Said galgou o corredor e fez um passe aparentemente inofensivo para a entrada da área. Salah, com a subtileza dos craques, rematou de pé esquerdo para o 0-1.

Começou, então, a dança das substituições. Primeiro Quaresma e André Gomes, depois Gelson, Gonçalo Guedes e Bruno Fernandes. A equipa passava a dispor de outros recursos (como a capacidade de penetração do extremo do Sporting, a precisão de cruzamento do atacante do Besiktas e a meia distância do motor do meio-campo leonino), mas continuava sem dinâmicas visíveis, sem ligação entre sectores.

Do outro lado, o Egipto também foi gerindo, sempre sem conceder grande espaço entre linhas e na expectativa de aproveitar um erro individual ou de posicionamento para engatar as transições ofensivas rápidas. Mas a história estava longe do fim.

Limiar dos 90 minutos e mais quatro de descontos concedidos. Quaresma cruza da esquerda e Ronaldo, entre os centrais, empata de cabeça, aos 90+2’. Era um mal menor, para quem tinha sido tão pouco esclarecido na fase da criação. Só que uma dupla com tanto talento está condenada a produzir em duplicado e, aos 90+4’, um livre indirecto do lado direito encontrou novamente a cabeça do capitão português. O resultado é o que se sabe. O 81.º golo pela selecção e mais um triunfo para animar as hostes. Com o aval do videoárbitro.

Sugerir correcção
Ler 3 comentários