Para acabar com as notícias baratas

Ev Williams, um dos fundadores do Twitter e da plataforma Medium, acredita que o futuro para os produtores de conteúdos passa pelo modelo de subscrição e considera que as notícias baratas não são saudáveis para a humanidade.

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Recentemente voltei a utilizar a Medium, a plataforma criada pelo fundador do Twitter, Ev Williams, que permite que se leiam artigos longos ou posts de blogues, mas também que se sigam pessoas, assuntos ou temas e até publicações. Pertencia àquele grupo de aplicações que descarreguei em tempos para o telemóvel, andei por lá a navegar mas foi ficando esquecida e acabou por desaparecer do ecrã sem que eu tivesse sequer dado por isso.

Mas depois de há algumas semanas ter assistido à entrevista que Ev Williams deu a Christiane Amanpour, resolvi dar-lhe mais uma hipótese. E acabei por fazer uma assinatura, que custa pouco mais de 5 euros por mês, passei a ser membro e assim posso ler ou ouvir conteúdos exclusivos sem restrições. E sei que o dinheiro que ali investi vai directamente para as pessoas que escreveram os textos. Pois instalaram um sistema parecido com o dos likes no Facebook, em que batemos palmas quando gostamos de ler um artigo e onde também conta o facto de termos estado a ler o artigo até ao fim, não basta abri-lo e não lhe dedicar tempo de leitura. A percentagem de remuneração que vai para o criador é influenciada por estes factores.

Na entrevista à CNN, Ev Williams explicou que durante algum tempo tentaram prosseguir com o mesmo negócio que existe um pouco em todas as redes sociais, que são gratuitas mas dependem de anúncios e da publicidade. Mas em Maio do ano passado optaram por se afastar desse modelo e passar para um modelo de subscrição, onde cobram ao utilizador 5 dólares por mês para que este consiga ter acesso a número ilimitado de artigos. Para quem não é assinante, funcionam com uma espécie de paywall, tal como o New York Times ou o PÚBLICO, mas sem os anúncios que os jornais costumam ter: permitem aos não-assinantes a leitura de alguns artigos por mês, mas, quando se atinge o limite, só assinando é que se consegue continuar a ler.

“Eu acredito que isto será mesmo o futuro”, disse Ev Williams a Amanpour, confirmando que está muito contente com os resultados. Considera que é nesse sentido que todos os produtores de conteúdos irão, em todo o mundo, já que há uma grande parte do público que se preocupa com as ideias e as histórias que consome porque sabe que essas leituras moldam a nossa maneira de ver o mundo.
 

Ev Williams, tal como M.G. Siegler (um dos investidores do Medium e também um dos criadores de conteúdos na plataforma), é muito crítico do jornalismo que se faz actualmente.

Lamentam os artigos que são escritos sem tempo para se investigar, a pressão do “quanto mais rápido melhor” nas redacções dos jornais que têm pessoas que não percebem nada de determinado assunto a terem de escrever sobre ele em cinco minutos ou pessoas que até percebem do assunto mas sem tempo necessário para o investigar e escrever como devia ser.

Um problema que Ev Williams viu alastrar por todo o sector e que diz só ter piorado nos últimos cinco anos. Considera-o um problema ainda maior do que as fake news, as notícias falsas. Chama-lhes: “cheap news”, notícias baratas. Tal e qual como as “cheap calories” da comida de plástico, que “são produzidas o mais barato possível tendo em vista o ganho comercial e se destinam a ser consumidas em massa”. Ev Williams defende num dos seus ensaios na Medium: “Tal como as ‘cheap calories’, as ‘cheap news’ não são saudáveis e devíamos acabar com elas.”

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