Mais mortos e feridos nas estradas: a culpa é das motos

"O aumento da sinistralidade grave, mortos e feridos graves, está todo exclusivamente concentrado nos motociclos", diz presidente da Prevenção Rodoviária Portuguesa.

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Fabio Teixeira

A Prevenção Rodoviária Portuguesa (PRP) considerou nesta quinta-feira que o aumento da sinistralidade rodoviária grave em 2017 está "exclusivamente concentrado" nos motociclos, cuja circulação nas estradas portuguesas aumentou no ano passado essencialmente devido ao bom tempo.

"O aumento da sinistralidade grave, mortos e feridos graves, está todo exclusivamente concentrado nos motociclos, não houve aumento nos outros tipos de utentes" das vias, disse à agência Lusa o presidente da PRP, José Miguel Trigoso.

O responsável comentava os dados provisórios divulgados pela Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), que dão conta de um total de 509 pessoas mortas nas estradas portuguesas no ano passado, mais 64 do que em 2016 (12,5%), tendo também sido registado um aumento do número de acidentes e feridos graves.

"Todo este aumento é devido ao aumento dos mortos e feridos graves dos motociclos", precisou José Miguel Trigoso, adiantando que "aumentou muito" a circulação de motos em 2017 "por razões da economia, mobilidade e do bom tempo".

O presidente da PRP explicou que existem dois tipos de pessoas que circulam com motociclos, as que utilizam este tipo de transporte todos os dias, conhecidos por motards, e os que usam o automóvel ou motociclo consoante a situação.

Estes, que são em número superior aos motards, tendem a utilizar mais o motociclo nas viagens regulares e, como esteve bom tempo praticamente durante o ano todo de 2017, aumentou "seguramente muito o volume de circulação neste tipo de veículos, levando a um aumento global do risco e provavelmente a um aumento da sinistralidade grave", sustentou, ressalvando que os números de 2017 são provisórios e apenas existem dados mais completos até Outubro.

O mesmo responsável sublinhou também que, em comparação com os restantes países da União Europeia, Portugal tem uma taxa de sinistralidade relativamente baixa fora das localidades, mas "brutalmente elevada" dentro das localidades.

Ministro ouvido no Parlamento

Por isso, defendeu que "a grande prioridade" é o combate da sinistralidade dentro das localidades, até porque é nestes locais que existe maior número de acidentes com motociclos.

A ANSR indica também que, em 2017, foram registados 130.157 acidentes nas estradas (127.210 em 2016), 2181 feridos graves (2102) e 41.591 feridos ligeiros (39.121).

Segundo anunciou em Dezembro o ministro da Administração Interna, o Governo quer já no início deste ano definir objectivos para reduzir a sinistralidade rodoviária e reflectir sobre qual a intervenção necessária nos atropelamentos, álcool e acidentes com motociclos, os três principais factores de risco.

O presidente da PRP considerou que estas medidas devem ser tomadas rapidamente e defendeu uma organização do tráfego e das infraestruturas dentro das localidades, nomeadamente a obrigatoriedade da realização de auditorias de segurança rodoviária a todos os projectos e de inspecções às condições de segurança das vias.

José Miguel Trigoso considerou ainda fundamental a existência de um manual de boas práticas de aplicação obrigatória sobre o tipo de projectos das vias em meio urbano e uma política de gestão da velocidade.

A agência Lusa contactou a ANSR, que se escusou fazer qualquer leitura sobre o aumento da sinistralidade rodoviária em 2017, alegando que os dados são provisórios.

Na quarta-feira, a comissão parlamentar de Economia, Inovação e Obras Públicas aprovou por unanimidade um requerimento do PSD para a audição do ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, sobre a evolução da sinistralidade rodoviária em 2017.

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