Uma tarefa nada fácil

É normal que, tal como quando a liderança de Cavaco acabou, o PSD pareça hoje um deserto.

Substituir Pedro Passos Coelho à frente do PSD não é tarefa fácil. Para o bem e para o mal, durante o seu consulado de oito anos na presidência do partido, dos quais fazem parte quatro anos e meio de chefia do Governo, Passos mudou e marcou o país de um modo e com uma intensidade que relativamente a um líder do PSD apenas aconteceu antes com Aníbal Cavaco Silva.

E se Passos chefiou o Governo menos de metade do tempo de Cavaco, a verdade é que o fez numa época em que a velocidade da história acelerou e em que foi marcante a pressão dos condicionalismos da crise e da intervenção externa. É, por isso, normal que, tal como quando a liderança de Cavaco acabou, o PSD pareça hoje um deserto, sem ideias, sem projecto, sem massa crítica, um partido esgotado, exaurido.

Não é assim fácil, logo após a saída de Passos, encontrar um líder capaz de protagonizar um projecto político para o país que surja como atraente e viável aos olhos do eleitorado. Além de ter de liderar o partido em legislativas no prazo máximo de dois anos e para isso criar um programa eleitoral consistente e coerente de resposta aos desafios de hoje, o próximo presidente do PSD terá de conduzir um processo de refundação do partido em termos de programa para o médio prazo - ou seja, não basta alinhavar meia dúzia de promessas eleitorais giras e publicitáveis.

A gravidade e a dificuldade do momento vivido pelo PSD é demonstrada com o facto de nenhuma das promessas de líderes futuros ter levado o seu estatuto de protocandidato à consequência prática. Nem dirigentes como Luís Montenegro arriscaram ir a jogo num momento em que, além de exaurido pelo esgotamento do projecto de Passos, o PSD está afastado do poder e vive o estatuto inédito até hoje de ser o maior partido parlamentar mas estar na oposição.

Mais, o futuro líder do PSD terá de desafiar em eleições um primeiro-ministro do PS, António Costa, que vive uma época de sucesso político. Saiu das autárquicas com uma vitória clara. A economia cresce. O desemprego baixa. O país parece ter retomado um caminho positivo ao qual, para alguns, nem o céu se afigura como limite.

É, assim, em contexto adverso que surgem dois candidatos à sucessão de Passos: Rui Rio, o crítico e adversário assumido há anos do ex-primeiro-ministro, e Santana Lopes, o candidato surpresa que agora decide regressar à política partidária activa, descendo do pedestal da consagração senatorial da política portuguesa alcançado com o estatuto de ex-líder do PSD e ex-primeiro-ministro.

Partem ambos para uma disputa interna que será decidida a 13 de Janeiro em eleições directas. A escolha caberá aos militantes do PSD, a todos os militantes. Será feita em urna fechada. Logo, por mais que possam existir sindicatos de voto, a verdade é que o apoio que venha a ser assumido pelas estruturas partidárias e pelos dirigentes locais durante a campanha será só isso mesmo, arma de campanha eleitoral. A decisão de cada militante será tomada individualmente no boletim de voto que introduzir na urna. Não é possível antecipar vencedor e vencido, nem considerar que Santana ou Rio têm mais possibilidade de ganhar. Só a votação ditará o nome do futuro líder do PSD.

Mas quem sair das urnas vencedor na noite de 13 de Janeiro terá forçosamente de iniciar um processo de reconstrução do PSD. Um objectivo muito mais ambicioso que uma simples mudança de caras, de mero lifting da direcção do partido. Terá de abrir o caminho de redefinição programático em circunstâncias adversas de oposição num espaço político em que a ribalta do poder pertence ao PS e em que o espaço da direita está parcialmente ocupado por um CDS em que Assunção Cristas, depois do resultado nas autárquicas em Lisboa, se consolidará como líder.

Uma tarefa nada fácil, de facto. Basta lembrar como a sucessão de Cavaco triturou as lideranças de Fernando Nogueira e de Marcelo Rebelo de Sousa, até que o PSD conseguisse ocupar a cadeira de primeiro-ministro com Durão Barroso.

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