Máquinas pensantes: como os computadores mudaram a estética de artistas, designers e arquitectos

Em Novembro no MoMA, cerca de 100 obras ilustram “a história transformadora” de uma das mais importantes invenções do mundo.

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Boston, Massachusetts. (1985) Lee Friedlander/MoMA/Fraenkel Gallery

Desenhar, filmar, arquitectar e até tecer e pensar o contexto social – tudo com ou por causa dos computadores. A influência da computação na produção artística, na arquitectura e no design é o tema da grande exposição de Outono do Museum of Modern Art (MoMA) de Nova Iorque, intitulada Thinking Machines. Estas máquinas pensantes aliam obras de John Cage, Cedric Prince ou Lee Friedlander, mas também do brasileiro Waldemar Cordeiro ou dos italianos Enzo Mari e Gianni Colombo à tecnologia da Olivetti, da IBM ou da Apple.

A inauguração é só a 13 de Novembro e a mostra estende-se até 8 de Abril de 2018 e destina-se, partindo da rica colecção do MoMA, a “sublinhar a história transformadora e a influência dos computadores nos artistas, arquitectos e designer do pós-guerra”, como resume o museu em comunicado. Há a roda, a electricidade, a penicilina – mas o computador pessoal, e a computação em geral e a internet, mais tarde, em particular, estão entre as mais importantes invenções da humanidade cujo reflexo na produção cultural mais têm interessado o MoMA, que desde os anos 1930 (foi fundado em 1929) se debruça sobre o tema e colecciona obras em que eles se intersectam.

Thinking Machines reenquadra uma corrente de relações estéticas e culturais” que simboliza em parte a era que se seguiu à II Guerra Mundial, diz o museu na nota que anuncia a exposição, que inclui obras produzidas entre 1959 e 1989. Haverá exemplos da Arte Programmata italiana, obras cinéticas, claro, sobreposições entre a arte conceptual e a arte feita com computadores. E um vídeo central, de Beryl Korot, Text and Commentary (1976-77), em que a artista tece num tear – a norte-americana considera mesmo que o tear é “o primeiro computador à face da Terra” - que a instalação ilustra como parte da intrincada influência da computação na história e nas artes.

O uso da computação, seja da sua prática seja do seu pensamento, reposicionou “a produção artística, industrial e económica”, com artistas como Vera Molnár, Lejaren Hiller ou Stan VanDerBeek a explorar o seu potencial através de parcerias com unidades de investigação ou empresas do sector. Como a sugestiva Thinking Machines Corporation ou a Universidade de Illinois, que lhes deram acesso a máquinas especiais ou à ponta da lança do desenvolvimento da tecnologia. Foi com esta última que John Cage e Lejaren Hiller fizeram a obra HPSCHD (1967); o artista Richard Hamilton criou um computador em si mesmo, o DIAB DS-101 (1985–89).

Thinking Machines é comissariada por Sean Anderson, do Departmento de Arquitectura e Design, e Giampaolo Bianconi, do Departmento de Média e Artes Performativas do MoMA, e quer mostrar “como os computadores transformaram as hierarquias estéticas” mas também contar um pouco da história da própria evolução desta maquinaria e da forma como nós, que pusemos o “pessoal” no “computador pessoal”, mudámos com ela. Um abalo tectónico retratado por Friedlander na sua série At Work, fotografias de uma América na fábrica, na padaria, na forja mecânica, mas também no escritório, como uma sequência de rostos congelados, e algo sorumbáticos, frente a um ecrã.

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