Há obras nos castelos do Norte para não se dar com o nariz na porta

Potenciar os monumentos para a população e para os turistas: é este o objectivo da “Operação Castelos a Norte”. Um mês depois do arranque oficial, vai-se descobrindo o que o solo escondeu durante muito tempo.

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O orçamento global desta operação ronda os 2,3 milhões de euros Bruno Simoes Castanheira (colaborador)

A Direcção Regional de Cultura do Norte (DRCN) vai intervencionar cinco castelos, todos eles situados a norte, na região de Trás-os-Montes e Alto Douro. Chama-se “Operação Castelos a Norte” e arrancou oficialmente em Agosto mas vai prolongar-se, pelo menos, até ao próximo ano. É a primeira vez que estes castelos e fortificações, alguns deles raianos, vão ser intervencionados “com a dimensão da empreitada que agora será realizada”, adianta a DRCN.

A operação arrancou oficialmente com a intervenção no castelo de Montalegre, mas vai alastrar-se por territórios vizinhos. Junta-se àquele castelo do distrito de Vila Real, o de Monforte de Rio Livre (Chaves), de Outeiro (Bragança), de Mogadouro e de Miranda do Douro (ambos situados em concelhos pertencentes ao distrito de Bragança). O orçamento ronda os 2,3 milhões de euros e é co-financiado por fundos europeus.

“Cada um destes castelos e fortificações constitui um notável repositório de arquitectura, história, e património paisagístico”, diz, por escrito, a DCRN ao PÚBLICO. No entender da entidade, a disposição destes castelos pelo território pode “constituir mais um recurso importante para a sustentabilidade económica” das áreas que ocupam.

É com essa sustentabilidade em mente que a DCRN traça os objectivos destas intervenções: “potenciar o usufruto dos monumentos pela população local e pelos turistas que acorrem à região cada vez em maior número”. A DRCN registou, durante 2016, “uma subida de aproximadamente 82% em relação ao ano anterior”, em termos de procura nos monumentos e museus que supervisiona. Esse aumento de interesse por parte dos turistas é um dos argumentos para levar a empreitada avante. Todos os castelos intervencionados são monumentos classificados, pertencem ao Estado e estão sob a alçada da entidade.

O presidente da Câmara de Montalegre, Orlando Alves, dizia, na altura do início dos trabalhos oficiais, que são “milhares os turistas que todos os anos visitam Montalegre” e que quando chegam ao castelo dão “com o nariz na porta”. Um mês depois do início dos trabalhos arqueológicos no local — obrigatórios para a realização da operação — o presidente adianta que já “foram já encontrados vestígios do prolongamento da muralha do castelo”.

O autarca espera que, o mais tardar em 2019, a sala de visitas do castelo possa reabrir. Um desejo antigo da autarquia, que guarda na edificação e no Ecomuseu de Barroso — Espaço Padre Fontes as principais atracções turísticas para quem chega do outro lado da fronteira.

Noutro ponto do território transmontano, em Miranda do Douro, ainda se está em fase de aquisição de terrenos. Artur Nunes, presidente da câmara afirma que os segredos que o solo escondeu durante muito tempo podem vir agora a ser descobertos. “Durante 500 anos a ordem foi não mexer, agora a Direcção Regional entendeu que estava na altura de descobrir o material que se encontra enterrado”, afirma o autarca.

O castelo reserva ainda um papel estruturador na vida urbana da cidade. Esta valorização do património traz, como em Montalegre, a expectativa de mais dinamismo para uma região que tem registado “um aumento exponencial” de visitantes. 

Todos os castelos intervencionados guardam uma importância especial já que foram palco de muitos episódios do passado militar de Portugal e, por isso, segundo a DRCN, “constituem elementos simbólicos de enorme relevância para a história da nacionalidade”. Exemplo disso é o castelo de Outeiro, situado no concelho de Bragança, que terá sido um importante ponto de vigia do Reino de Leão, durante a Idade Média, mas que, tirando pequenos ajustes, nunca tinha sido intervencionado. O castelo foi destruído no século XVIII e está em ruína. César Garrido, presidente da Junta de Freguesia, diz que “a ideia [por detrás da empreitada] é tornar a fortificação visitável”.     

Esta não é a única intervenção “a norte” realizada pela DRCN, no âmbito do presente Quadro Comunitário de Apoio Norte 2020. Aos castelos, juntam-se catedrais e mosteiros, assim como operações na Igreja de Santa Clara do Porto e no Vale do Varosa. 

Texto editado por Ana Fernandes

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