Fogos já queimaram mais de 106 mil hectares

Dados do Sistema Europeu de Informação de Fogos Florestais não surpreendem especialista que aponta aquilo que, apesar de legislado, continua por fazer na floresta.

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Adriano Miranda

Em Portugal já arderam este ano mais de 106 mil hectares de floresta, segundo os dados do Sistema Europeu de Informação de Fogos Florestais, actualizados nesta terça-feira. São números que não surpreendem o director do Núcleo de Investigação de Incêndios Florestais da Universidade de Coimbra, Luciano Lourenço, que faz notar que “só os incêndios de Pedrógão e de Góis queimaram cerca de 50 mil hectares”.

No ano passado, o ano “já foi mau” em termos de extensão de área ardida que foi superior a 160 mil hectares, segundo os números do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). Para Luciano Lourenço, conjugam-se aqui “as condições climatéricas e a existência de uma floresta que tem todas as condições para arder”. E o especialista lamenta que as primeiras tendam a “ser usadas para justificar e desculpar aquilo que continua por fazer na floresta”.

Recuando “aos anos 40 e 50 do século passado, quando a floresta tradicional foi substituída pelo pinheiro e depois, resultado dos incêndios florestais mas também das alterações sócio-económicas das populações rurais, pelo eucalipto e pelos incultos [carqueja, giestas, urzes…]", o especialista lembra que o comportamento dos incêndios se alterou. “Temos reparado, quando cartografamos as áreas queimadas, que os incêndios têm vindo a aumentar de dimensão. Nos anos 80 do século passado, estavam abaixo dos 10 mil hectares. O primeiro incêndio acima desta área ocorreu em 1986, em Vila de Rei”, precisa, para concluir que “o que antes era queimado por dois ou três grandes incêndios agora arde num só incêndio, como o do ano passado em Arouca, que queimou mais de 21 mil hectares”.

Para conter o potencial destrutivo dos fogos, Luciano Abreu garante que “não é precisa mais lei nenhuma”, bastando “que fosse cumprido o que já está legislado”. Aliás, o director do Núcleo de Investigação de Incêndios Florestais diz-se convencido que se os pequenos povoamentos, as estradas e os postes de alta tensão tivessem, como previsto, sido protegidos por faixas de segurança e contenção, o incêndio da Sertã que se alastrou a Mação nesta terça-feira poderia estar resolvido. “A maior parte das aldeias que foram evacuadas não necessitariam disso se tivessem as faixas de protecção previstas na lei desde 2004. E, se assim fosse, os bombeiros não precisavam de estar hipotecados às aldeias e poderiam concentrar-se de forma muito mais eficaz no combate ao fogo”, sustenta. 

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