Há uma nova história da chegada dos humanos à Austrália

A análise de mais de 11 mil artefactos encontrados durante novas escavações em Madjedbebe, um abrigo de pedra no norte da Austrália, estabelece que a chegada dos humanos à Austrália terá acontecido há 65 mil anos. Afinal, pode ter sido 18 mil anos antes do que se pensava

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Arqueólogos trabalharam, lado a lado, com os aborígenes que são proprietários das terras David Vadiveloo/Corporação Aborígene Gundjeihmi
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Arquéologos chegaram às camadas mais profundas do abrigo de rocha Dominic O'Brien/Corporação Aborígene Gundjeihmi
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Chris Clarkson, arqueólogo da Universidade de Queensland que liderou as escavações Dominic O'Brien/Corporação Aborígene Gundjeihmi

Uma equipa de arqueólogos escavou as camadas mais profundas de um abrigo situado no norte da Austrália, onde já tinham sido encontrados vestígios importantes da mais antiga ocupação humana no continente, e encontrou novas provas que reescrevem a história dos aborígenes. Segundo o artigo publicado na revista Nature, a chegada dos humanos à Austrália aconteceu há 65 mil anos. As anteriores estimativas sugeriam que este evento tinha acontecido mais tarde: algo entre há 47 e 60 mil anos.

Os trabalhos de escavações na camada mais funda do abrigo de rocha decorreram em 2015 e resultaram na recolha de mais de 11 mil artefactos de pedra que se encontravam no sítio de Madjedbebe. Desta vez, foram encontradas ferramentas de pedra que desvendam alguns detalhes do modo de vida destes primeiros humanos a chegar à Austrália. A equipa descobriu machados de pedra, ferramentas usadas para moagem de sementes antigas e setas de pedra delicadamente esculpidas, entre outros achados.

“O sítio contém a tecnologia de machados de pedra mais antiga do mundo, as ferramentas de moagem de sementes mais antigas conhecidas na Austrália e evidências de setas de pedra finamente esculpidas, que podem ter servido de pontas de lança”, refere Chris Clarkson, arqueólogo da Universidade de Queensland que liderou as escavações e principal autor do artigo, num comunicado da Corporação Aborígene Gundjeihmi sobre o estudo.

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Sítio de Madjedbebe onde decorreram as escavações Dominic O'Brien/Corporação Aborígene Gundjeihmi

Aliás, este documento sublinha ainda a cooperação que existiu entre cientistas e as comunidades dos aborígenes – que são proprietários destas terras situadas próximo do Parque Nacional de Kakadu. Desde 1970, este local já foi palco de trabalhos de escavações quatro vezes. Nesta última “visita” ao sítio, os investigadores assinaram um acordo com a Corporação Aborígene Gundjeihmi que representa o povo Mirrar, os donos das terras, e que trabalhou, lado a lado, com os arqueólogos ajudando nas escavações e recolha das peças.

Para a rigorosa datação, os arqueólogos avaliaram cuidadosamente a posição dos artefactos, garantindo que correspondem às idades dos sedimentos que os envolviam. De acordo com um comunicado da Nature sobre o artigo, o trabalho de datação confirmou a integridade estratigráfica (relacionada com as camadas de rochas e sedimentos) do local, “comprovando um padrão de aumento da idade com profundidade e fornecendo idades que são mais precisas do que antes”. A parte mais profunda da escavação terá cerca de 65 mil anos, concluiu a equipa de especialistas, antecipando o tempo da primeira ocupação na região que estava estabelecido até agora.

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Um dos artefactos, parte de um machado de pedra, encontrado no local Chris Clarkson/Corporação Aborígene Gundjeihmi

“Os resultados estabelecem uma nova idade mínima para a dispersão de humanos modernos fora de África e em todo o sul da Ásia. Além disso, as descobertas indicam que os humanos modernos chegaram ao continente antes da extinção da megafauna australiana, um evento em que a participação dos humanos tem sido questionada”, refere ainda o comunicado.

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