A águia não merecia isto

Um documentário formatado e inspiracional cujas imagens espectaculares são completamente desaproveitadas: A Caçadora e a Águia.

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A palavra “documentário” talvez não seja a designação mais correcta para A Caçadora e a Águia, pelo menos no sentido mais “estrito” em que a palavra costuma ser usada. Há, de facto, no filme de Otto Bell o registo do quotidiano de uma família nómada nas estepes e montanhas da Mongólia, e do desejo de uma miúda de 13 anos de prosseguir a linhagem familiar da caça com águias.

Mas essas imagens foram em seguida “moldadas” na montagem numa narrativa linear e formatada, à medida das boas consciências ocidentais, que corre o risco de tornar Aisholpan, a “caçadora” do título, num exemplo de uma “nova geração” feminina à beira de abalar as convenções patriarcais.

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Esclareça-se: esse tipo de “formatação” não é de hoje (já vem dos tempos de Flaherty e do Nanook, o Esquimó, ou das antropomorfizações da Disney) nem é, por si só, chocante que Bell tenha querido fazer um filme que saia do “circuito fechado” do documentário para chegar ao grande público.

Mas, a cada momento de A Caçadora e a Águia, Otto Bell parece escolher o caminho narrativo mais simples e mais viajado, e opta por contar a história de acordo com a fórmula já bem gasta da heroína que segue o seu sonho contra tudo e contra todos, com direito a música bombástica e voz off inspiracional.

Teríamos todos ficado melhor servidos com um filme que respeitasse a singularidade da sua heroína e do seu laço com o animal, da relação quase mística entre mulher e águia. As imagens são, de facto, espectaculares, mas não chegam. 

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