Arnaud Desplechin reaparece na selecção oficial, é um antigo amor

Abre esta quarta-feira o festival com Les Fantômes d’Ismael. É francês, é filme de autor, dá estrelas à passerelle — é “filme Cannes”.

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Marion Cotillard em Les Fantômes d’Ismael dr
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Thierry Frémaux, delegado-geral do festival Reuters/ERIC GAILLARD

Nas vésperas da rodagem do seu novo filme, reaparece na vida de um cineasta um amor. Com esta história Arnaud Desplechin, um dos “casos” de 2015 — Trois Souvenirs de Ma Jeunesse ficou sem lugar na competição e foi recebido com pompa na Quinzena dos Realizadores, tendo sido um título agitado pela rivalidade entre os “dois festivais” — reaparece na selecção oficial como autor do filme de abertura. Feridas saradas: Thierry Frémaux, delegado-geral do festival, assumiu o erro de 2015 (no seu diário Sélection Oficiel), ainda para mais pouco depois Desplechin seria coroado pelos Césars como melhor realizador. Les Fantômes d’Ismael traz Mathieu Amalric, Marion Cotillard, Charlotte Gainsbourg. É francês, é de autor, há estrelas, é esta quarta-feira, fora de competição.

Para já, o “caso” chama-se Netflix, serviço de streaming. O festival posicionou-se. A partir de 2018, um título com pretensões à competição tem de garantir distribuição em sala. Isto porque tendo acolhido a entrada deste novo operador, a edição 70.ª seleccionou para The Meyerowitz Stories de Noah Baumbach, e Okia, de Bong Joon Ho, produções Netflix. Mas houve agitação pelo facto de não estar assegurada distribuição em sala em França. Cannes pediu então à Netflix que fizesse para que os filmes encontrassem qualquer espectador e não apenas os seus subscritores. Nenhum acordo tendo sido feito, a direcção, mostrando “todo o seu apoio ao modelo de exploração tradicional de cinema em França e no mundo”, mexeu nos regulamentos, com efeitos a partir de 2018.

Os filmes de Baumbach e de Bong Joon Ho continuam em concurso, no entanto. Serão 19: The Beguiled, de Sofia Coppola, Happy End, de Michael Haneke, com Isabelle Huppert e Jean-Louis Trintignant, Redoutable, de Michel Hazanavicius, cuja personagem é Godard, Wonderstruck, de Todd Haynes, Goodtime, dos irmãos Safdie, L’Amant Double, de François Ozon e ainda os novos de Yorgos Lanthimos, Hong Sang-Soo (The Day After — o coreano apresenta também, fora de competição, Claire’s Camera, o filme que rodou no ano passado na Croisette com Isabelle Huppert, enquanto a actriz esperava pela apresentação de Elle), de Jacques Doillon (Rodin, com Vincent Lindon), Andrey Zvyagintsev, Ruben Ostlund, Lynne Ramsay, Kornel Mandruczó, Sergei Loznitsa, Naomi Kawase, Robin Campillo, Fatih Akin.

Fora de concurso haverá D’Après une Histoire Vraie, de Polanski, ou Visages, villages, de Agnès Varda, viagem pela França. Há sinais de aposta no documentário (para compensar as dificuldades da ficção em dar conta do mundo?), quer seja, em Sessões Especiais, Napalm, de Claude Lanzmann, Sea Sorrow, de Vanessa Redgrave, 12 jours, de Raymond Depardon, Promissed Land, de Eugene Jarecki, ou Le Vénérable W, de Barbet Schroeder.

No Un Certain Regard reencontramos Mathieu Amalric e Barbara (biopic da cantora, com Jeanne Balibar), ou Laurent Cantet, com L’Atelier. Para celebrar a 70.ª edição: dois episódios de Twin Peaks, a que Lynch regressou (Os Últimos Dias de Laura Palmer teve recepção negativa em Cannes...), os sete minutos de Carne y arena, por Alejandro González Iñárritu, a realidade virtual no festival; 24 Frames, de Abbas Kiarostami, uma homenagem; ainda, Top of the Lake, série de Jane Campion, a única realizadora a ter recebido a Palma de Ouro.  

Na Quinzena dos Realizadores, que abre com Un Beau Soleil, de Claire Denis, com Juliette Binoche, Gérard Depardieu e Josiane Balasko, está Alive in France, de Abel Ferrara, L’Amant d’un Jour, de Philippe Garrel, Frost, de Sharunas Bartas, com Vanessa Paradis, Jeannette, L’Enfance de Jeanne D’Arc – uma comédia musical sobre a infância da donzela de Domrémy, na Lorena, com ambientes musicais de electro pop e coreografias de Philippe Découflé —, West of the Jordan River (Field Diary Revisited), documentário de Amos Gitai sobre as relações israelo-palestinianas depois de 70 anos de conflito, ou L'intrusa de Constazo Di Costanzo, sobre uma mulher-terrorista.

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