E se a sua sala de estar estivesse exposta na Tate Modern?

Fartos de mirones, os moradores do edifício Neo Bankside, em Londres, interpõem uma acção judicial para que a galeria encerre parte do terraço panorâmico que dá para os seus apartamentos.

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Pedro Guerreiro
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Os residentes do complexo habitacional de luxo Neo Bankside, situado mesmo ao lado da galeria Tate Modern, em Londres, dizem-se vítimas de voyeurismo e queixam-se de uma total ausência de privacidade. Isto porque a recentemente inaugurada ala do museu inclui um terraço panorâmico com vista directa para os seus apartamentos, cujas paredes são feitas de vidro. E a curiosidade impele os visitantes a espreitar a vida dos moradores dos apartamentos de luxo com vista para o rio Tamisa.

Fartos dos olhares constantes, cinco dos inquilinos do Neo Bankside apresentam agora uma acção judicial contra a galeria londrina, considerando que existe uma violação dos seus direitos fundamentais. Em causa, dizem, está a sensação de serem permanentemente vigiados pelos visitantes do museu, mesmo na privacidade do lar.

Numa acção entregue no Tribunal Supremo, os moradores declaram que a plataforma panorâmica é “um incómodo”, admitindo que está a “interferir excessivamente” com a fruição dos apartamentos. Os residentes relatam ainda que os visitantes da galeria usam binóculos para olhar para as suas casas e tiram fotografias que são posteriormente publicadas nas redes sociais. Os proprietários dos apartamentos – que custam cerca de um milhão e meio de libras (cerca de 1.790.280 euros) cada – assumem que se sentem observados como se estivessem num “aquário”. De acordo com o documento judicial, algeam que os apartamentos deixam de ser “um lar com um ambiente seguro ou adequado para crianças”.

“Penso que fazem bem em processar. A sua privacidade merece ser respeitada”, afirma ao The Guardian Yumi Kumazawa, moradora há três anos no mesmo empreendimento de luxo, que fica perto da Ponte do Milénio. “Não era pedir muito que o museu pusesse persianas nas janelas que estão viradas para os apartamentos”, considerou outro casal que mora no lado oposto do complexo residencial, e que por isso não sofre o mesmo problema que os vizinhos que vivem virados para a Tate Modern.

No entanto, o jornal britânico também encontrou moradores que se opõem ao processo interposto pelos vizinhos. “Parece-me que avançar com uma acção judicial é exagerado. Acho que é um sintoma da má gestão crónica deste tipo de assuntos. Podiam ter sido tratados de forma muito mais eficaz desde o início”, disse um habitante do edifício Neo Bankside ao diário londrino.

De facto, vizinhos e galeria têm fracassado na busca de uma solução consensual. Desde que foi inaugurada a Switch House, o novo anexo daquele museu de arte moderna de Londres, os moradores do bloco de apartamentos vem manifestando preocupação com a sua privacidade. Uma possível apresentada pelos residentes seria a interdição do acesso a certas partes da plataforma de observação. O director do museu, Nick Serota, sugeriu por outro lado que os habitantes instalassem persianas ou cortinas para evitar os olhares incómodos dos visitantes da galeria londrina. Alguns moradores tinham-se disponibilizado, por seu turno, para pagar uma tela ao museu, de forma a impedir que os visitantes olhassem para as suas casas, mas a proposta foi rejeitada.

O sucesso da acção judicial dos moradores do Neo Bankside está longe de estar garantido, já que será praticamente impossível alegar o desconhecimento dos proprietários dos apartamentos em relação à presença da galeria ao lado do empreendimento e aos projectos de expansão da mesma. Os planos de construção da ala da Tate Modern em que está agora incluída o terraço no centro da polémica já estavam definidos quando o complexo habitacional começou a ser comercializado. A própria localização das habitações de luxo ao lado do museu tinha sido publicitada de forma explícita. “Mude-se para a casa ao lado de Warhol, Dalí e Picasso”, lia-se num anúncio de venda dos apartamentos em 2011.

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