O Facebook marcou a semana da sua conferência anual, a F8, com um conjunto de propostas grandiloquentes: a transformação da câmara do telemóvel num instrumento de realidade aumentada, a aplicação de realidade virtual que promete dar-nos uma espécie de Second Life melhorado e a fabulosa tecnologia não invasiva que permitirá escrever só com a mente.

Houve, no entanto, um projecto que não chegou à primeira linha das notícias cujas implicações podem afectar milhões vidas de forma mais célebre do que aquelas imagens futuristas que a F8 nos pôs na cabeça. Chama-se Workplace. É o software de comunicação empresarial que o Facebook tem vindo a desenvolver e que, ficámos a saber, terá uma versão gratuita.

O Facebook quer usar os seus dois mil milhões de utilizadores para rivalizar com uma app que tem conquistado adeptos: o Slack. Trata-se de uma ferramenta idêntica ao velho IRC, com canais públicos e privados de diálogo, que tem sido adoptada pelas empresas como forma de facilitar a comunicação entre funcionários e simplificar a gestão de projectos desenvolvidos entre diferentes departamentos. A Microsoft oferece um serviço idêntico através do Office 365.

O Slack está a crescer rapidamente. Em Outubro do ano passado, anunciou ter ultrapassado os quatro milhões de utilizadores activos. Quase um terço dos quais com conta premium. O Facebook decidiu fazer o mesmo: ter uma versão gratuita e outra paga. Dada a sua dimensão, poderá esmagar os preços: o custo por utilizador será menos de metade do que no Slack. Uma atitude agressiva que poderá servir para ganhar com celeridade uma importante fatia do mercado – mas essa é apenas parte da estratégia da empresa liderada por Mark Zuckerberg.

A outra é a habitual: apostar na inércia dos utilizadores. Afinal, se podemos ter tudo o que precisamos no mesmo sítio, para quê recorrer a diferentes aplicações? O mais certo é que grande parte das empresas se sinta satisfeita com a versão gratuita do Workplace, que será de fácil implementação – uma vez que os trabalhadores já estão na plataforma. Isto tornará o Facebook num espaço com fronteiras ainda menos definidas entre o que é trabalho e o que é vida privada. Um espaço tão abrangente que um dia não conseguiremos sair dele.