PCP reduz comemorações do Tratado de Roma a "propaganda" capitalista

Jerónimo de Sousa também se manifestou sobre a polémica de Dijsselbloem, considerando que Portugal está sujeito a “intoleráveis pressões e condicionamentos”.

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Jerónimo de Sousa diz que as comemorações dão vida a um processo de integração capitalista Enric Vives-Rubio/ARQUIVO

O secretário-geral do PCP atribui as comemorações dos 60 anos do Tratado da Roma – assinalados este sábado por toda a Europa – a propaganda ideológica que visa propagar um modelo de união "esgotado" e disfarçar responsabilidades nos problemas do território.

Durante a X Assembleia de Organização Regional de Aveiro, que reuniu em S. João da Madeira dirigentes comunistas de todo o distrito, Jerónimo de Sousa afirmou que "as comemorações são acompanhadas por uma onda de mistificação e de propaganda ideológica que tem como objectivo dar vida a um processo de integração capitalista que está esgotado, cada vez mais corroído por insanáveis contradições e incapaz de dar resposta aos inúmeros problemas dos povos da Europa".

Rejeitando os termos da declaração sobre o futuro da União Europeia que hoje foi assinada pelos chefes de governo dos respectivos países, o líder dos comunistas declara que "a crise em que está mergulhada a Europa é de tal forma profunda que os seus responsáveis e as instituições são obrigados a reconhecê-la, embora tentem iludir as suas próprias responsabilidades e remeter para o exterior do processo de integração a origem de todos esses males".

Para Jerónimo de Sousa, o Livro Branco sobre o Futuro da Europa, editado pela Comissão Europeia no início de Março, constitui assim "uma operação de ilusórias opções alternativas que se constrói à margem da real situação" dos países em maiores dificuldades.

"Os cinco cenários do Livro Branco convergem num único objectivo de continuidade e aprofundamento da União Europeia que está assente na divergência e desigualdade, a duas ou mais velocidades, sempre determinadas pelo directório de potências e em torno dos seus interesses", lamenta o secretário-geral do PCP.

A reacção aos "copos e mulheres"

"Aquilo de que os povos da Europa necessitam não é mais do mesmo, ainda que com novas roupagens e novos arranjos de poder. Mais União Europeia não significa mais Europa - pelo contrário, o aprofundamento do processo de integração capitalista é um dos principais factores de regressão social, o que, nas últimas décadas, fez regressar ao continente europeu a guerra, o terrorismo, o racismo, a xenofobia e os nacionalismos", argumenta.

Jerónimo de Sousa reitera ainda que as declarações polémicas por parte de responsáveis institucionais da União Europeia - numa alusão ao presidente do Eurogrupo e aos seus recentes comentários sobre os gastos dos países do Sul em "copos e mulheres" - "mostram bem a visão imperial de certos círculos e a trama de intoleráveis pressões e condicionamentos a que Portugal está sujeito".

Relacionando essas declarações "xenófobas" de Jeroen Dijsselbloem com a alusão do ministro das Finanças alemão Wolfgang Schäuble à possibilidade de um novo resgate financeiro a Portugal, o secretário-geral do PCP conclui: "Os donos da União Europeia só reconhecem e aceitam os que se submetem à sua visão da Europa e aos interesses egoístas que representam, e o país não pode tolerar mais insultos, chantagens e ingerências".

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