Morreu o realizador japonês Seijun Suzuki

Especialista do thriller nipónico marcou cineastas como Jim Jarmush, Quentin Tarantino, Wong Kar-Wai ou Takeshi Kitano.

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Seijun Suzuki no Festival de Veneza, em 2001 CLAUDIO ONORATI/ EPA

O realizador japonês Seijun Suzuki (1923-2017), que marcou nomes do cinema norte-americano como Quentin Tarantino e Jim Jarmusch, morreu no dia 13 de Fevereiro, aos 93 anos, vítima de uma doença pulmonar, anunciou esta quarta-feira o seu antigo estúdio.

Num comunicado divulgado pela conta de Facebook do estúdio Nikkatsu, este lembrou que Suzuki se estreou no cinema com o filme Harbor Toast: Victory Is In Our Grasp, em 1956, data a partir da qual “continuou a influenciar os fãs e os cineastas por todo o mundo, com filmes como Tokyo Drifter [1966], Branded to Kill [1967] ou Zigeunerweisn [1980]”.

O estúdio nipónico expressou as suas “mais sinceras condolências e profunda gratidão e respeito pelo trabalho de uma vida”. Isto não impediu que esta produtora – onde Suzuki dirigiu uma dúzia de longas-metragens de Série B ao longo de pouco mais de uma década – o tivesse despedido em 1968, tendo então considerado “demasiado difícil” trabalhar com ele. A situação ocorreu a seguir à produção de Branded to Kill, um filme de yakuzas que junta “uma montagem experimental, comédia imprevisível e um estilo de fluxo de consciência a algo que devia ter sido um filme de gangsters directo ao assunto”, nota o comunicado do Nikkatsu.

O processo chegou mesmo ao tribunal, e Suzuki ficou inactivo durante cerca de uma década. “O melhor que alguma vez lhe aconteceu foi ser despedido", escrevia o The Guardian em 2015, a propósito do lançamento de um livro sobre o realizador e de uma retrospectiva em Nova Iorque, que colocava a questão de saber se os públicos ocidentais estariam finalmente “preparados” para receber o cinema de Seijun Suzuki.

Em 1977, o cineasta regressou ao trabalho com A Tale of Sorrow and Sadness, mas seria com Zigeunerweisn (1980) que verdadeiramente voltaria a reocupar o seu lugar na galeria dos cineastas que deixaram rasto – o filme recebeu uma menção honrosa no Festival de Berlim.

Duas décadas depois, foi a França a reconhecer a importância de Suzuki, no âmbito de uma retrospectiva dedicada ao cinema japonês – a revista Cahiers du Cinéma destacava, em 1997, o seu “gosto imoderado pela provocação”. Esta marca que atravessa os seus thrillers não foi certamente estranha ao culto que dele viriam a fazer figuras como os realizadores americanos já citados, Jarmush e Tarantino, mas também o chinês Wong Kar-Wai, ou o seu compatriota Takeshi Kitano.

O seu último filme, Princess Racoon, uma fantasia surpreendente em registo de opereta, foi exibido, fora de competição, no Festival de Cannes de 2005.

Já mais recentemente – diz o jornal Le Monde –, Damien Chazelle, em passagem por Tóquio numa viagem de promoção da sua comédia musical La La Land, o principal favorito aos Óscares do próximo domingo, confessava ter-se “inspirado um pouco” em O Vagabundo de Tóquio, um filme de yakuzas que Suzuki realizou na década de 60. “O meu filme é uma espécie de homenagem escondida [a Suzuki]. Os seus planos largos e as suas cores tão pop art evocam uma comédia musical, com revólveres”, acrescentou o realizador.

Questionado em tempos por um jornalista sobre se queria trabalhar até ao fim, Seijun Suzuki respondeu, citado pela Variety: “É melhor morrer como uma pessoa comum; morrer a trabalhar só traz problemas a quem está à nossa volta”. 

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