Flynn pode ter mentido sobre conversas com embaixador russo

O responsável pela segurança nacional da Administração Trump garantiu sempre que não abordou as sanções contra a Rússia nos contactos que estabeleceu com o embaixador antes da tomada de posse.

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Michael Flynn manteve contactos com o embaixador russo em Washington EPA/WIN MCNAMEE / GETTY IMAGES / POOL

O conselheiro para a segurança nacional da Casa Branca, Michael Flynn, terá tido vários contactos com o embaixador russo em Washington, Serguei Kisliak, ainda antes da tomada de posse de Donald Trump. Neste contactos foram abordadas as sanções actualmente em vigor contra Moscovo, avança o Washington Post. A notícia contraria várias garantias dadas por dirigentes da nova Administração, incluindo o próprio Flynn, de que a questão das sanções esteve ausente das discussões.

Era já sabido que o homem-forte da segurança nacional dos EUA estabeleceu contacto com o embaixador russo antes da tomada de posse de Trump, incluindo várias chamadas telefónicas no dia em que Barack Obama anunciou uma série de medidas em resposta à acusação dos serviços secretos de que o Kremlin montou uma campanha para interferir nas eleições presidenciais.

Os contactos entre o conselheiro e o embaixador russo foram analisados pelo FBI no âmbito das investigações que têm sido levadas a cabo pelos serviços de informação, motivadas pelas suspeitas de interferência nas eleições, explica o Post.

Contactos entre futuros responsáveis políticos e dirigentes estrangeiros não são nada de novo nos EUA. O Washington Post cita, por exemplo, o ex-embaixador americano em Moscovo, Michael McFaul, que confirmou ter entrado em contacto com responsáveis do Kremlin em 2008, antes de tomar posse.

O problema é o teor das muitas conversas que Flynn manteve com Kisliak, através de telefonemas, mensagens de texto e até pessoalmente. O Post falou com nove dirigentes da Administração anterior e da actual que confirmam que Flynn abordou o regime de sanções actualmente imposto contra a Rússia. Duas das fontes dizem que o dirigente deu a entender a Kisliak que as sanções aplicadas por Obama no final de Dezembro poderiam ser rapidamente revertidas por Trump. Depois de ter dado indicações de que iria ripostar, o Presidente russo, Vladimir Putin, acabou por nada fazer – decisão que lhe valeu elogios de Trump.

Em causa está a possível interferência de um futuro dirigente sobre as políticas de um Governo ainda em funções. Flynn pode até mesmo ter violado uma lei que proíbe cidadãos norte-americanos de, “sem autorização”, entrarem em contacto com um governo estrangeiro envolvido em “disputas ou controvérsias” com os EUA para influenciar as suas políticas.

O conselheiro negou sempre ter discutido as sanções com Kisliak, garantindo que as conversas com o embaixador se destinaram sobretudo a preparar um telefonema entre Trump e Putin.

Também o vice-presidente, Mike Pence, garantiu que o assunto das sanções ficou de fora destes contactos. Numa entrevista a 15 de Janeiro ao canal CBS, o então vice-presidente eleito disse apenas que Flynn “tem estado em contacto com líderes de cerca de 30 países”. “É isso que um futuro conselheiro para a segurança nacional deve fazer”, acrescentou.

Um porta-voz de Flynn afirmou na quinta-feira que o conselheiro “embora não tenha memória de ter discutido as sanções, não pode estar certo de que o tema não tenha surgido”. Confrontado com estas notícias, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse esta sexta-feira que se trata de “informação incorrecta”.

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