Há imagens inéditas daquela cena de Marilyn em O Pecado Mora ao Lado

Tentaram rodar a cena em Manhattan. O vestido subia, o marido Joe DiMaggio irritava-se, as imagens perderam-se. A actriz estava rodeada de homens aos gritos e por um videoamador, que filmou tudo.

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Será a imagem mais conhecida e reproduzida de Marilyn Monroe: vestido branco soprado pernas acima, O Pecado Mora ao Lado personificado sob o olhar hipnotizado de Tom Ewell. Agora, a história da cena e da imagem do filme de Billy Wilder ganha novos contornos, graças a um vídeo caseiro que revelou imagens perdidas da filmagem nas ruas de Nova Iorque – a cena imortalizada no filme foi rodada depois, em Hollywood, mas os registos da noite em Manhattan eram muito escassos.

O vídeo, revelado parcialmente na sexta-feira pelo New York Times, foi feito por Jules Schulback, um imigrante alemão que trabalhava com peles e que era apaixonado pelo vídeo amador. Conta a história de dois momentos – o primeiro, em Setembro de 1954, em que o realizador Billy Wilder tenta filmar em Manhattan, no cenário natural da história do marido fiel que se vê tentado pela sensual vizinha loira, e o segundo em que a cena é completada nos estúdios da 20th Century Fox, em Hollywood, Los Angeles.

A rodagem na rua tornou-se impossível de concretizar pela pressão dos transeuntes e do próprio marido de Marilyn, o jogador de basebol Joe DiMaggio, descontente com o ténue vestido branco da mulher. Essa agitação foi filmada pela Bolex de Schulback, que se deslocou, como conta o diário nova-iorquino, até ao Upper East Side pela 1h da manhã. Ali, uma multidão, feita sobretudo de homens que gritavam a Marilyn e à sua saia “mais alto, mais alto!” e de jornalistas que Wilder ali chamara para promover o filme com a sua estrela loira, acompanhava a rodagem da curta cena em que a personagem se refresca sobre uma conduta do metro em pleno Verão.

As imagens de Schulback, de que o homem se gabava mas que a família nunca tinha visto, foram descobertas pela neta e o marido, Bonnie Siegler e Jeff Scher. “Era uma espécie de mito familiar”, diz Scher ao New York Times, sobre a busca que encetou em 2004. A película estava num saco de plástico de filmes caseiros do avô, quase tão esquecida quanto as imagens de Wilder dessa noite, que o realizador considerou inúteis e que acabou por refazer em Los Angeles. Perder-se-iam no tempo e dos registos da própria noite só resistiram algumas imagens de um noticiário das filmagens em Nova Iorque, de parca qualidade.

O diário elenca as várias teses sobre por que é que as imagens de Wilder desapareceram, entre as quais que a ideia do realizador era apenas usar o momento como publicidade para o seu filme, sabendo que a confusão tornaria o filme inutilizável ou que, devido às luzes e ao arrojo da cena, foi a própria blond bombshell a pedir que fossem refeitas. A verdade é que, como diz o New York Times, a tal imagem muito reproduzida é da cena em Nova Iorque e não do filme, versão acabada no set da Fox, e vem das fotografias de cena tiradas naquela noite.

Jules Schulback coligiu três minutos e 17 segundos de filme em que Marilyn está de roupão, a secar o cabelo ou Billy Wilder a bocejar, depois a actriz já com o inconfundível vestido. Negoceia a altura a que sobe a saia, vê-se que usa dois pares de cuecas – e que não são, ainda assim, suficientes para a proteger das luzes fortes – e desaparece, dando lugar a mais cenas da vida doméstica da família Schulback. Jules chegou a rever o filme de que tanto falara, graças aos esforços do marido da neta para o recuperar, e morreu em 2005. A família mostrou as imagens a cerca de cem pessoas em casa de amigos em 2004 e agora ao mundo no site do New York Times.

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