CDU vai sozinha às autárquicas mas admite acordos pós-eleitorais

Jerónimo de Sousa rejeita qualquer "excepção": a coligação PCP-PEV-AID vai concorrer sozinha em todo o país. Mas não tem "problemas em assumir compromissos" com quem quiser "resolver os problemas" do país.

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Nuno Ferreira Santos

"Sem excepção", a CDU vai concorrer sozinha, em todo o país, às eleições autárquicas do próximo ano, porque é preciso que a coligação de esquerda, que engloba o Partido Comunista Português, o Partido Ecologista Os Verdes (PEV) e a Associação Intervenção Democrática (AID), "se afirme no plano eleitoral".

Apesar disso, o secretário-geral do PCP admite acordos pós-eleitorais para a governação autárquica, replicando o modelo assumido a nível nacional com o PS, depois de há um ano os dois partidos terem assinado a posição política conjunta que permitiu a formação do Governo socialista apoiado pela maioria de esquerda parlamentar.

"Naturalmente, depois das eleições, nunca tivemos problemas em entendermo-nos e assumir compromissos com aqueles que querem resolver os problemas das populações. Mas na batalha eleitoral vamos concorrer, sem excepção, no quadro da CDU", respondeu Jerónimo de Sousa quando questionado pelo PÚBLICO, esta terça-feira, sobre se o entendimento em algumas matérias a nível nacional com os socialistas podem abrir uma porta para entendimentos pré-eleitorais no próximo ano.

Jerónimo de Sousa, que falava na sede comunista no final de uma reunião entre o seu partido e os representantes da AID, afirmou que hoje consegue ir para o terreno dizer aos trabalhadores e aos apoiantes do partido que "valeu a pena a contribuição construtiva e positiva" do PCP neste último ano no compromisso com o Governo de António Costa e que permitiu a aprovação de dois Orçamentos do Estado.

Defendendo que a posição conjunta que PCP e PS assinaram - e que tem réplicas com o PEV e o Bloco de Esquerda - "conseguiu resultados", Jerónimo de Sousa recusou a palavra "apoio" para falar da relação entre os dois partidos e preferiu o termo "compromisso".

O líder comunista enalteceu questões como o aumento de reformas e pensões - com o aumento mais significativo já previsto para Agosto do próximo ano -, o reforço de direitos na contratação colectiva, a redução do IVA em parte da restauração, a gratuitidade progressiva de manuais escolares no primeiro ciclo, o fim faseado da sobretaxa, ou a "perspectiva de aumento do salário mínimo".

"Valeu a pena estar nesta batalha com a nossa contribuição e as nossas propostas, e levar a que o PS considerasse matérias e direitos que nem sequer estão no programa de Governo do PS", realçou o secretário-geral do PCP. Que, ainda assim, frisou os "constrangimentos" a que o PS continua ligado - ou seja, os tratados orçamentais e as metas financeiras impostas por Bruxelas.

Sobre o processo autárquico, Jerónimo de Sousa disse que se está actualmente "numa fase de prestação de contas às populações", no entanto escusou-se a responder se a aproximação ao Governo PS e o apoio aos dois orçamentos podem trazer mais votos à CDU. "Os nossos projectos [autárquicos] não estão baseados na fulanização, mas na procura por responder aos problemas diferenciados das pessoas e do território - com as suas desigualdades e assimetrias, com questões sociais, económicas, de gestão do ambiente e de mobilidade das pessoas - com respostas concretas", afirmou.

No final da reunião, marcada a pedido do PCP para discutir a actual situação política, o dirigente da AID, João Vicente, deixou elogios à actuação do PCP na discussão do orçamento e disse que "o que de bom for conseguido nos retoques que têm que ser feitos [à proposta do Governo] contribuirá" para melhorar a vida dos portugueses no próximo ano.

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