Uma cimeira pela paz e pela juventude, mas com problemas políticos no horizonte

XXV Cimeira Ibero-Americana começa esta sexta-feira em Cartagena das Indias. O tema é a juventude e a educação, mas a paz na Colômbia, a situação da Venezuela e as eleições nos EUA devem fazer parte das conversas entre chefes de Estado e de Governo

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XXV Cimeira Ibero-Americana vais ser uma cimeira pela paz AFP/GUILLERMO LEGARIA

Devia ser a “cimeira da paz”, de consagração da paz na Colômbia e de Juan Manuel Santos como o seu obreiro. Mas o resultado do referendo ao tratado assinado com as FARC estragou o planos. Então que seja uma “cimeira pela paz”. Quem o diz é Rebeca Grynspan, secretária-geral da cimeira ibero-americana, que começa esta sexta-feira em Cartagena das Indias, e em que participam o Presidente e o primeiro-ministro portugueses.

“Creio que a cimeira pode voltar a reiterar o apoio da comunidade ibero-americana e da comunidade internacional ao processo de paz e ao desejo dos colombianos de que este processo termine com uma paz estável e duradoura para todos”, afirmou, recentemente, em Lisboa, onde participou num encontro com embaixadores e jornalistas, promovido pelo Instituto para a Promoção do Desenvolvimento da América Latina.

O tema da cimeira é Juventude, Empreendimento e Educação, mas, além da questão colombiana outros assuntos vão estar em pano de fundo deste encontro dos chefes de Estado e de Governo. Será o caso da Venezuela, ainda que não oficialmente. “Os temas políticos, em geral, tratam-se através da proposta de comunicados especiais. Apresentaram-nos várias propostas de comunicados especiais, mas nenhum sobre a Venezuela. Claro que a discussão entre os presidentes é livre e podem falar do que decidirem, mas não há a Venezuela como tema na cimeira, afirmou.

Outro assunto são as eleições nos Estados Unidos da América, que “são do interesse de todos, não só da América Latina, mas do mundo”, afirmou esta mulher dinâmica e cheia de esperança, que já foi vice-presidente da Costa Rica.

Rebeca Grynspan acredita que a relação entre os Estados Unidos e a América Latina amadureceu muito nos últimos anos e confia que nenhum resultado vai romper essa relação. Mas avisa: “Há duas coisas que não podemos esquecer. Uma é que a palavra conta. Muitas vezes desvalorizamos a palavra, que influi nos cidadãos, nos valores da sociedade e todos temos de estar muito conscientes do valor da palavra como conteúdo, como simbologia, como imaginário colectivo.”

E o segundo aviso, que também parece ter Donald Trump como destinatário, tem em conta a sua experiência como mulher filha de imigrantes. “Sou a primeira geração nascida em Costa Rica de pais imigrantes e, portanto, sei o que significa isso num pais que dá oportunidades, que permite às novas gerações educar-se e ser parte activa e valiosa para um país. Diz muito do meu país que, sendo eu primeira geração nascida na Costa Rica, tenha sido eleita vice-presidente da República e tenha tido essas oportunidades”, afirmou Rebeca Grynspan, concluindo: “Com a minha experiência, acho que essa oportunidade deve ser dada a todos os cidadãos do mundo.”

Aumentar a mobilidade dos jovens

Desta cimeira vai sair um pacto para a juventude ibero-americana, que pretende aumentar a mobilidade académica, mas também profissional dos jovens latino americanos. Rebeca Grynspan reconhece que muitas vezes “há cepticismos sobre estes acordos, que ficam no papel …”. Mas, acrescenta, “vamos chegar à cimeira com resultados sobre a mobilidade académica, com resultados sobre a participação de jovens na resolução de problemas sociais, com resultados em termos e educação e de um canal de cooperação ibero-americana, com resultados nos projectos culturais que tiraram muitos jovens, centenas de jovens, de ambientes degradados e lhe deram oportunidades através das orquestras juvenis, do teatro, da música, da cinematografia e da criação cultural”.

Em termos de funcionamento interno, a secretária-geral já deu uma boa noticia aos governos ibero-americanos: não é preciso aumentar as quotas de participação. “Somos uma organização austera, não somos uma organização que tenha como objectivo crescer. O que quero são sócios, não é fazer tudo. Formando redes, como a rede de universidades, podemos fazer mais, sem crescermos como estrutura”, garantiu Rebeca Grynspan.

Parceria PÚBLICO/Rádio Renascença

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