Manoel de Oliveira visto de 1981

Manoel de Oliveira: 50 anos de carreira foi um dos primeiros objectos concebidos especificamente em torno do cinema do realizador. Foi em 1981, tinha ele 73 anos, a maior parte da sua obra estava ainda por fazer.

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Em 1981 passavam 50 anos da estreia de Douro, Faina Fluvial, e a efeméride justificou este pequeno filme feito para RTP, onde passou no quadro de um magazine cultural chamado Écran. Augusto M. Seabra, crítico, e José Nascimento, realizador, chamaram a si a coordenação e autoria daquele que terá um dos primeiros objectos concebidos especificamente em torno do cinema de Manoel de Oliveira.

Oliveira, que vivia então um momento alto em termos de reconhecimento público, nacional e internacional.

Amor de Perdição, em 1978, fora tão polémico em Portugal como aclamado no estrangeiro, e marcou decisivamente o início da atenção da crítica internacional ao trabalho do realizador; Francisca, estreado nesse mesmo ano de 1981, seria um inopinado sucesso de público em Portugal. Era também por esta altura que Oliveira, que tinha 73 anos, trabalhava, ou preparava, o seu filme póstumo, Visita ou Memórias e Confissões, que só seria divulgado ao público mais de três décadas depois…

É claro que ninguém previa a longevidade de Oliveira, muito menos o facto de em 1981, e no momento em que cumpria “50 anos de carreira”, a maior parte da sua obra estar ainda por fazer (porque só justamente a partir desta altura é que o cineasta entrou naquele inacreditável ritmo produtivo das últimas décadas). Mas nem isso, o carácter forçosamente parcelar da análise da obra, obsta à validade deste pequeno filme. Vive de documentos preciosos, os depoimentos de colaboradores do realizador (da cúmplice Agustina à actriz Lia Gama, passando pelo operador Manuel Costa e Silva) e os depoimentos de críticos e observadores particularmente atentos à sua obra (Alberto Seixas Santos, Henrique Alves Costa, João Bénard da Costa). E obviamente do próprio Oliveira, no máximo da sua energia espirituosa e mordaz, quer no que diz, retrospectivamente, sobre os tempos passados, quer no que tem a comentar sobre os aspectos e mais essências do seu cinema.

Acaba, no que parece um momento impromptu, e denunciando a presença da câmara em frente dele, a repetir um dos seus credos mais decisivos – “o cinema não existe, só existe o teatro”, e o teatro é tudo o que o cinema pode filmar.

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