Centro de detecção de VIH/sida no Algarve está sem funcionar há duas semanas

O Algarve é, a seguir à área metropolitana de Lisboa, a região com a maior taxa de incidência da infecção.

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Os testes de despistagem do VIH/sida são sobretudo feito nos CAD onde o atendimento é anónimo NFACTOS/Fernando Veludo

O Centro de Aconselhamento e Detecção Precoce da Infecção VIH/SIDA de Faro, um dos 15 que existe no país mas o único na região algarvia, está sem funcionar há pelo menos duas semanas. O presidente da Administração Regional de Saúde do Algarve, João Moura Reis, confirmou ao PÚBLICO a situação, explicando que deverá ficar resolvida esta semana, lembrando que os testes também podem ser feitos nos centros de saúde.

O responsável disse que é a primeira vez que o centro parou de funcionar, o que se ficou a “dever a uma coincidência de situações”, que juntou as férias da coordenadora e situações de doença dos dois outros funcionários. “São coisas que acontecem”, notou. No local, está uma enfermeira que encaminha os utentes para os centros de saúde, onde também é possível fazer testes de despiste à infecção, refere. “Há alternativa, o que se pode fazer ali, pode fazer ao lado”, desdramatiza, referindo que na segunda-feira a situação deverá ficar “normalizada”.

Por seu lado, o director do Programa Nacional para a Infecção VIH/Sida e Tuberculose, Kamal Mantinho, diz desconhecer a situação, referindo que não foi informado de qualquer problema de funcionamento.

De acordo com os últimos dados disponíveis, apesar de, desde 2014, os centros de saúde puderem sugerir aos seus utentes a realização de um teste de detecção do VIH/sida, o grosso dos testes continua a ser feito na rede nacional de Centros de Aconselhamento e Detecção Precoce da Infecção VIH/sida (os chamados CAD), que fazem cerca de 70% dos despistes e têm a taxa mais alta de detecções, com os positivos a representarem 0,95% do total. Só cerca de 15% dos testes são feitos nos centros de saúde, onde a taxa de positivos é mais baixa (0,65%); os restantes são feitos por projectos de Organizações Não Governamentais com acções nesta área.

Os CAD dão um atendimento anónimo e confidencial, sem necessitar de marcação prévia. Nos centros de saúde o teste tem de ser pedido por um profissional de saúde. O CAD mais próximo do de Faro é o de Beja.

O Algarve é, a seguir à área metropolitana de Lisboa, a região com maior taxa de incidência por VIH, um indicador que dá conta dos novos casos de infecção por ano. De acordo com o último relatório disponível, Portugal – Infecção VIH, SIDA e Tuberculose em números – 2015, documento produzido pela Direcção-Geral de Saúde, em 2015, a taxa de incidência no Algarve era de 15,8 novos casos por 100 mil habitantes (o que significou 70 novos casos), logo a seguir aos 19,2 da Grande Lisboa. A média nacional é de 11,7 novos casos por 100 mil habitantes, um valor que, apesar de ainda ser dos mas elevados a nível europeu, tem vindo a descer anualmente. O ano passado, a infecção foi detectada em 1220 pessoas a nível nacional. As áreas metropolitanas de Lisboa e Porto e o Algarve concentraram 68,5% dos novos casos.

Um dos problemas reconhecidos de Portugal é a taxa demasiado alta de diagnósticos tardios de infecção pelo VIH. A meta oficial é diminuí-los de 65% para 35% até 2016, no ano passado andava nos 58%. Haverá cerca de 25 mil pessoas em Portugal que estão infectadas com o VIH sem saberem, segundo estimativas do anterior director do programa nacional para a Infecção VIH/sida, António Diniz, com base na taxa prevalência de VIH/sida estimada pela ONUSIDA.

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