Um cinema Alfred Hitchcock em Londres?

O velho cinema Odeon de Kensington corre o risco de demolição. Grupo de residentes no bairro quer salvá-lo e transformá-lo num centro de artes polivalente, dando-lhe o nome do realizador de Chamada para a Morte.

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O edifício art déco remonta aos anos 1920 DR
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Alfred Hitchcock DR

Lá como cá; em Londres como em Lisboa ou no Porto; no Kensington Odeon como no Éden ou no Batalha: os velhos cinemas vão cedendo aos caminhos do chamado desenvolvimento e vão perdendo a patine da sua história.

Na capital inglesa, a comunidade de residentes no bairro de Kensington, apoiada por algumas figuras maiores do cinema e do teatro do país, como os actores John Hurt, Kristin Scott-Thomas, Ian McKellen ou David Suchet, faz a última tentativa para salvar a integridade do cinema Odeon de Kensington, ameaçado de demolição e de ser transformado num moderno complexo de habitação e lazer, com projecto, de resto, já aprovado pelo poder autárquico local.

Um “grupo de amigos” formado há já um ano, aquando do encerramento definitivo do cinema no dia 31 de Agosto de 2015, lançou uma petição em defesa do edifício art déco inaugurado em 1926, e propôs a criação de um novo centro de artes com o nome de Alfred Hitchcock (1899-1980), que residiu neste bairro londrino na década de 30.

A conquista mais recente para a causa foi a filha do realizador, Patricia Hitchcock O’Connell, que no passado mês de Agosto se associou à campanha em defesa do edifício. “Apoiamos sinceramente o projecto de criar um centro de artes pluridisciplinar no local, e dar-lhe o nome de Alfred Hitchock em homenagem e celebração da herança do meu pai, que era um frequentador habitual deste cinema e um orgulhoso residente de Kensington”, escreveu Patricia Hitchcock O’Connell, 88 anos, em carta dirigida ao conselho municipal.

O projecto de que fala a filha do realizador de O Homem que Sabia Demais e Os 39 Degraus – dois dos filmes que Hitchcock realizou nesses anos de residente na Cromwell Road, 153 – é o de recuperar o património arquitectónico do velho Odeon de Kensington, salvando não apenas a fachada, como pretende a promotora imobiliária Minerva, que adquiriu o edifício em 2011, mas mantendo também o foyer, com as suas escadarias originais de mármore e os estuques decorativos.

A campanha dos amigos do Odeon de Kensington, que reuniu mais de 30 mil assinaturas logo que lançou o apelo, elaborou entretanto uma espécie de “caderno de encargos” do seu projecto, com o título The Hitchcock, Kensington. Trata-se de actualizar a função do equipamento, construindo uma nova sala (800-1000 lugares) para a exibição de filmes, mas também para teatro, ópera, concertos e performances, e cinco salas-estúdio (200-400 lugares) para cinema e teatro; e ainda um estúdio de rádio e televisão, uma galeria de exposições, além de café, bar e espaços para serviços educativos e comunitários.

Esta é a resposta ao projecto da Minerva, que no lugar do velho cinema – e em edifício contíguos entretanto também já adquiridos – quer construir um complexo imobiliário com 42 apartamentos e moradias, mas mantendo também a oferta de cinema com um multiplex de cinco salas na cave, que deveria abrir em 2018.
 
 “Colaborámos muito de perto com a câmara e com os residentes para encontrarmos soluções que beneficiem a comunidade local”, disse um porta-voz do consórcio Minerva (Holland Park) Ltd., citado pelo jornal The Evening Standard, aquando da apresentação do projecto.

Do lado do grupo promotor da campanha Salve o Cinema Odeon, Dan Walker respondeu: “Na nossa opinião, o projecto aprovado é um pobre substituto para um dos cinemas mais importantes de Londres”. E outro membro, Guy Oliver, revelou que o programa alternativo ao da Minerva conta já com o apoio de vários milionários filantropos, dispostos a co-financiá-lo.

O grupo está agora a fazer um último esforço junto dos responsáveis autárquicos para tentar inverter o destino do Odeon, e fazer valer o nome e o legado de Alfred Hitchcock para salvaguardar o seu futuro (salvando também o passado).

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